PT de Sorocaba reconhece a força das manifestações de domingo passado e que ela exige capacidade de reflexão, rearticulação de propostas e adoção de um novo padrão de comportamento. Sobre as eleições de 2016, partido entende que deve respeitar a urgência da política e a emergência deste novo momento

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O diretório do PT de Sorocaba se reuniu na segunda-feira passada, um dia após as manifestações de domingo. O clima não foi de cordialidade, mas após o que foi classificado de longo e acalorado debate a direção local do PT aprovou um documento no qual aponta que o momento político do país exige nova postura dos agentes públicos e uma rearticulação do próprio Partido dos Trabalhadores. Para não distorcer o teor do documento com minha interpretação, publico-o na íntegra a resolução do PT de Sorocaba:
A política brasileira e seu vértice democrático:
Sorocaba e Brasil têm novos desafios
1) O Brasil vive um delicado momento de sua democracia e as manifestações públicas dos últimos dias exigem de todos os atores políticos capacidade de reflexão sobre o momento, rearticulação de propostas e disposições e, sobretudo, adoção de um novo padrão de comportamento frente aos desafios.
2) É preciso reconhecer o vigor do que as ruas têm nos mostrado, tanto quando em defesa da Petrobrás e dos serviços públicos, quanto nos momentos em que se mostra prioritariamente pautada pela agenda anticorrupção ou pós-eleitoral. Com isso, consolidou-se no país, ainda que pouco tempo depois da eleição, um forte sentimento de rejeição à política, ao PT e a Dilma.
3) Desde o período eleitoral de 2014, mas, sobretudo, com as manifestações ocorridas pelas ruas do país nos dias 13 e 15 de março de 2015, houve severa alteração no padrão e na qualidade da política brasileira. Antes constrangidos e agora impulsionados por uma coalisão político-empresarial-midiática, os conservadores encheram-se de coragem e força para irem às ruas com uma série de pautas tendo nosso partido, o governo federal e a Presidenta Dilma como centro de suas críticas e motivações.
4) Por outro lado, ainda que reconheçamos a existência desta hegemonia das forças conservadoras, devemos reconhecer também que há elementos populares e certa legitimidade nas reivindicações. A pauta anticorrupção é historicamente moralista/udenista e encobre as reais intenções do conservadorismo. Mas é, também, uma reivindicação justa, quando tomada isoladamente. O fato do Governo Federal ser muito atuante no combate à corrupção e, pela primeira vez na história do país, ter colocado a Polícia Federal no encalço de corruptos e corruptores, a inexistência de uma estratégia comunicacional sustenta a percepção de que nosso governo é parte do sistema de corrupção. O partido, enquanto agente político, deve ser mais efetivo nas suas medidas e, se tiver que cortar na própria carne, que o faça.
5) A mobilização do dia 13 demonstrou que existem potentes reservas de apoio para Dilma recompor o bloco político que permitiu seu triunfo em outubro. Há espaço para a construção de uma frente ampla que defenda a democracia e as reformas populares, buscando reunir nas ruas as forças que faltam ao governo dentro das instituições. Mas, para isso, é preciso dois movimentos paralelos e complementares.
6) Em primeiro lugar, a Presidenta Dilma precisa repactuar seu governo e sua liderança com o campo popular, com os eleitores que a sufragaram e todos os que defenderam os compromissos que a levaram à reeleição. Deve renunciar, assim, às pautas conservadoras que protegem o capital e punem os trabalhadores à espera da complacência da mídia corporativa.
7) Em segundo, governo, partido e organizações sociais progressistas devem articular uma estratégia de comunicação. Para muitos, a batalha comunicacional já está praticamente perdida, levando junto com ela a batalha política. A integração entre o governo federal e o PT e seus diretórios na estratégica da comunicação é imperativa. Ambos devem ter objetivos e táticas bem definidas para que cada um consiga cumprir o seu pape.
8) O atual cenário é absolutamente preocupante e exige do PT e do governo federal capacidade analítica e de ação. A vitória eleitoral foi substituída por grave derrota política, o que teria levado o partido ao imobilismo e o governo à adesão ao modelo liberal que havia sido derrotado anteriormente.
9) A ironia na qual estamos enredados estabelece-se quando reduzimos nossa capacidade de liderança política e de comunicação com a sociedade, permitindo que se consolide a percepção de que o governo do PT aderiu ao programa dos derrotados, facilitando as operações de sabotagem implementadas pela oposição de direita e também por setores da base do governo.
10) A estratégia da coalisão político-empresarial-midiática precisa ser denunciada insistentemente por nosso governo, partido e militantes. O que vimos neste domingo, dia 15, foi uma ação política bastante sofisticada, com canais de televisão beneficiários de concessões públicas em explícita ação publicitária e atuando praticamente em rede; o metrô paulista, sobejamente denunciado como centro da corrupção tucana, patrocinando as manifestações por meio da liberação das catracas; e a contagem da PM de Geraldo Alckmin inflando números e contrariando qualquer lógica primária.
11) Nas ruas, o que vimos foi uma manifestação legítima, mas eivada de ódio e desrespeito aos princípios democráticos. Aos cartazes e faixas pedindo o fim do STF, a volta da ditadura, a morte ou prisão de Dilma e Lula, presença de símbolos nazistas e manifestações a favor do feminicídio e pela morte de petistas, somaram-se milhares e milhares de personagens típicos dos setores historicamente privilegiados, compondo um mosaico de pessoas aparentemente pouco dispostas a combater a desigualdade social, a corrupção em Sorocaba ou em São Paulo, a reconhecer o trabalho da Polícia Federal ou a discutir a proposta de Reforma política feita por CNBB, OAB e outra centena de entidades.
12) O PT, em grande medida, ao aderir ao sistema que tanto condenou, tornou-se refém do modelo de financiamento empresarial da política, permitindo-se calar diante da privatização das eleições, de governos e parlamentos e da atuação militante. Compreender a dinâmica de atuação política no século XXI e romper com essa lógica é tarefa fundamental para a recuperação de nosso capital político e legitimidade. A reforma política deve ser o eixo de atuação principal do PT no próximo período.
13) Vale dizer, porém, que as características fundamentais do atual período não estão circunscritas ao Brasil, mas têm traços internacionais. Talvez este seja o momento de maior hegemonia do capitalismo mundial e, portanto, de um período regressivo e defensivo da luta socialista. A isso se somam as novas tecnologias e possibilidades de atuação política que ultrapassam os métodos tradicionais que trouxeram o PT e outros partidos de esquerda até aqui.
14) O que vivemos é mais profundo que uma crise política, mas, sim, uma mudança de época que exige do Partido dos Trabalhadores esforço de compreensão e de rearticulação política. A profunda hegemonia do capitalismo hoje se dá de outra forma, com o capitalismo industrial sendo superado pelo capitalismo financeiro que é impulsionado por mudanças tecnológicas de dimensões também profundas, com impacto sobre o trabalho, os arranjos produtivos e dinâmicas sociais e políticas. Não podemos abordar com instrumentos e discursos obsoletos realidades que exigem de nós novo tipo de atuação.
15) O Diretório Municipal do PT de Sorocaba entende que essa rearticulação do PT, tanto no âmbito partidário quanto nas suas relações políticas com a sociedade deve começar também por nossa cidade, fazendo renascer o pacto político que fundou o PT, fortaleceu a luta dos trabalhadores e sobre o qual chegamos ao governo federal.
16) A democracia começa pelo que nos é próximo. A política e as instituições locais, as candidaturas, partidos e movimentos formados e controlados por cidadãos são hoje alguns elementos que devem alimentar nossas práticas. O PT de Sorocaba deve aprofundar suas relações com o campo popular sorocabano e regional, ampliando sua capacidade de escutar e de dialogar.
17) No âmbito interno, devemos estimular de maneira crescente que nossa sede seja um ponto de encontro, convívio e debate político de nossa militância. Por outro lado, devemos recuperar a dimensão da participação espontânea e permanente dos filiados no financiamento ao partido.
18) A preparação para as eleições de 2016, tanto para a definição da tática eleitoral, quanto da chapa para o legislativo e candidatura à prefeitura, deve respeitar a urgência da política e a emergência deste novo momento que atravessamos. O PT de Sorocaba intensificará a agenda de reuniões nos meses de março e abril, tanto para a compreensão da situação política na cidade, quanto para definição de estratégias. Além disso, reafirmará sua posição a favor de uma reforma política que ponha fim ao financiamento empresarial das eleições, elemento que tem sido fundamental para o fortalecimento da hegemonia conservadora.
19) O PT de Sorocaba terá intensa agenda de debates com filiados e não filiados, movimentos sociais, organizações e atores sociais sobre os grandes temas da política local e nacional, de maneira que a capacidade de intervenção e construção de legitimidade tenham efetiva ressonância na sociedade sorocabana.
20) Com isso, o PT orienta seus militantes a atuar fortemente nos debates em torno da Conferência Popular da Cidade de Sorocaba, do Fórum Social Sorocaba, do plebiscito pela Reforma política e pela democratização da comunicação,do movimento estudantil, de sindicatos de trabalhadores, associações de moradores e outros, a fim de que se construa uma efetiva atuação em rede, buscando ampliar nossa capacidade de intervenção qualificada no debate municipal.
21) Por fim, afirmamos que precisamos compreender sobre que bases, valores e princípios vamos reafirmar os tradicionais temas de redistribuição de renda e solidariedade que estão na base de convivência de qualquer sociedade e que têm apresentado fragilidade no cenário recente. Mais que denunciar a injustiça, devemos atuar para mudar o signo político. É preciso denunciar o consumismo e elitismo que alimentam o ideário nacional, propondo um novo tipo de exercício político no qual os cidadãos sejam protagonistas do que se decide e o direito à cidade esteja no centro do modelo de governança que propomos a Sorocaba.
22) É preciso superar o vácuo das políticas plastificadas e espetaculares e pensar, propor e promover iniciativas sociais e políticas dinâmicas e irrenunciáveis, conectadas com a vida das pessoas e brotadas da disputa pelo sentido das coisas. Vivemos um tempo de emergência da participação política como expressão de intolerância. Cabe ao PT e aos petistas de nossa cidade compreender que a cidade se impõe como locus de partilha do sensível, exigindo de todos nós a recuperação da dimensão política de nossa militância.

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