O que eu gosto, e não é de hoje, é prestar atenção na conversa dos outros em ambientes públicos. No comportamento. Na voz. Como estão vestidos.
Todos esses elementos me ajudam a entender onde estamos, de onde viemos e para onde estamos indo.
Claro que gosto de livros e filmes. Não gosto de novela. Aliás, gostava de assistir novela quando era pré-adolescente até meus 12 ou 13 anos. Depois não vi mais. Adulto, tenho quase certeza, a única novela que vi foi Pantanal. Faz muito tempo!
Nesta segunda-feira, sentado no sofá numa sala de espera, chega um homem na faixa dos 45 anos. Minutos depois chega um garoto na faixa dos 12 anos com o uniforme de sua escola. Eles se abraçam. O homem beija o menino. São pai e filho. O pai olha para o menino e pergunta: Que cara de cansaço é essa?
O filho desconversa. Com ansiedade e orgulho, ele queria contar que tirou 8.8 na prova de Matemática, 8.2 em Ciências, 9.0 em História… O pai erguia o punho com a mão fechada e jogava de encontro a mão do filho. O pai dizia parabéns campeão. O filho estava radiante com a aprovação que recebia do pai.
Então chega o irmão. E ao ser perguntado sobre suas notas, o menino disse 10. 10 em tudo. Ele deve ter 14 anos e também usava uniforme da escola. Os meninos trocaram olhares. Não era de cumplicidade. O mais novo externava alguma indignação. O mais velho o poder. O pai era só elogios aos dois.
Então eles se foram e eu segui sentado no sofá, esperando.
Então me lembrei do professor Wlademir dos Santos, o mesmo que empresta seu nome à Faculdade de Pedagogia que nasceu por iniciativa de Arthur Fonseca Filho, do Colégio Uirapuru, discípulo de Wlademir.
Ambos foram criados na Organização Sorocabana de Ensino que havia nascido da Escola do Comércio, em 1924. Tive a oportunidade de conviver com o professor Wladimir, na OSE, por alguns anos onde trocava ideias diariamente com ele sobre tudo. Principalmente livros.
Doutor em Educação, seo Wlademir tinha um aprofundado estudo sobre Avaliação. Sobre critérios a serem adotados por professores para atribuir a reprova ou aprovação de um aluno.
Mas o que causava indignação nele, e certamente a cena de pai e filho lhe teria embrulhado o estômago, era a clara preocupação da família com notas. A ansiedade do filho mais novo era contar sua nota pois ele sabia que isso agradaria ao pai. Ele sabe que o pai quer boas notas dele. Nenhum, nem pai ou filho, tinham foco no fundamental, importante e essencial: O que você aprendeu?
O conhecimento foi se perdendo no caminho da educação. A nota ficou importante.
Todos já fomos alunos e sabemos que nota alguma é capaz “provar” algum conhecimento.
Isso diz muito sobre onde estamos e qual será a consequência. Diz que pouco importa o que aprendemos ou sabemos desde que se tire boa nota. Tristeza!