Um olhar sorocabano de esperança esteve presente na luta pela democracia

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Por Grace Carreira

Não é exagero dizer que o Tuca (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) foi palco de um encontro histórico na última segunda-feira (2/9). Desde 1984, isto é, desde as Diretas Já, não se via algo parecido: um encontro de lideranças de partidos políticos de espectros ideológicos diversos, entidades da sociedade civil, representações religiosas, empresários, advogados, jornalistas, artistas, intelectuais e muitas outras pessoas reunidas com o mesmo objetivo, a defesa do Estado Democrático de Direito.

O evento no Tuca marcou o lançamento oficial do Movimento Direitos Já – Fórum pela Democracia. Uma evocação direta ao movimento da década de 80 com uma diferença. Enquanto naquela época o voto direto foi o elemento aglutinador de diversos atores políticos, hoje, 35 anos depois, o que se busca é preservar as conquistas da Constituição Cidadã, sobretudo, preservar a Democracia e os Direitos.

Em que pese as diferenças programáticas entre partidos, o que o Brasil pode constatar é que a convergência é possível e é necessária. O Movimento Direitos Já – Fórum pela Democracia trouxe luz e esperança para quem acredita que, por meio do diálogo, é possível a construção de uma agenda comum com foco naquilo que une as pessoas e não no que as separa.

Com este espírito, representantes de 16 partidos discursaram e com uma narrativa comum declararam apoio à Frente Democrática construída no ato. Estiveram presentes no ato lideranças e representantes de partidos como PDT, PSB, PSDB, PSD, MDB, Partido Verde, Cidadania, Podemos, Solidariedade, Novo, DEM, PTB, REDE, PC do B, PT e PL.

Personalidades nacionais como Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Antonio Anastasia, Marta Suplicy, Flavio Dino, Marcio França, Penna, Eduardo Jorge, Eduardo Suplicy, Soninha, Gilberto Kassab entre outros políticos declararam apoio ao Movimento Direitos Já – Fórum pela Democracia.

A presença de lideranças religiosas revelou que a Justiça Social e Proteção dos Direitos é uma preocupação em comum. Estiveram no ato, Igreja católica por meio da CNBB, representada pelo Cardeal D. Cláudio Hummes, responsável pelo Sínodo da Amazônia; e também, representantes da Igreja Batista da Água Branca, Igreja Metodista, Candomblé, Comunidade Cristã Renovada, Espiritismo Kardecista, Judaísmo, Frades Capuchinhos do Brasil, Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias e Fé Baihat. Incontáveis entidades estiveram presentes e declaram apoio ao Movimento a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Associação de Professores da PUC, Grupo Mulheres do Brasil; Casa Portugal, Movimento Nacional Policiais Antifascismo, Instituto Vladmir Herzog, Instituto dos Arquitetos do Brasil, UNE, Novos Rumos, Nova Frente Brasileira, União de Negros pela Igualdade, Movimentos LGBTI, Liderança Indígena Almir Surui; OAB; sindicatos entre muitas outras.

Ponto alto do evento foi sem dúvida a presença de Noam Chomsky (foto), filósofo e sociólogo norte americano que abordou a situação da Democracia no mundo, citando as fragilidades e a deterioração de instituições democráticas pelo mundo, principalmente, nas Democracias mais antigas como do Reino Unido. E concluiu dizendo que é necessário nos organizar e resistir.

Foram duras e meia de evento, diversos discursos, diversas manifestações e resultado é esperança de que, apesar de todas as divergências, é possível a união em prol de algo que nos é caro: manutenção do Estado Democrático de Direito, entendido como obediência às Leis, Defesa dos Direitos Humanos e Garantias Fundamentais, preservação de um ambiente com diversidade de ideias e pensamentos. Enfim, a

Defesa intransigente e corajosa da Democracia e dos Direitos.

Grace Carreira mora em Sorocaba, é jornalista e advogada. Membro da comissão de Direito Urbanístico da OAB Seção SP – coordenadoria de Patrimônio Histórico e Cultural.

Manifesto do Movimento Direitos Já – Fórum pela Democracia

Direitos Já! Democracia sempre!

O Brasil vem enfrentando nos últimos anos uma explosiva combinação de crises econômicas, fiscais, éticas e de representatividade.

O resultado é um sentimento de descrédito e desesperança nas instituições e valores democráticos cujos resultados devem ser encontrados no exercício da política e jamais na sua negação.

Não há outro caminho. Na ânsia de virar a página da recessão, do desemprego, da violência e corrupção, a sociedade foi às urnas movida por notícias falsas, uso político da Justiça, demonização de pautas identitárias e movimentos sociais e pela promessa de soluções rápidas, fáceis e definitivas.

O resultado foi a ascensão política de um discurso vazio, religiosamente fundamentalista de contínuas agressões a instituições e segmentos sociais. Ao atacar a complexidade dos processos político e social do país e rotulá-los como a origem dos problemas do Brasil, as forças vencedoras do pleito paradoxalmente atacam a própria democracia e a legitimidade dos anseios de parcelas da população.

A narrativa desse novo polo de poder transforma em vilões do desenvolvimento do país os direitos humanos e trabalhistas, a pluralidade de pensamentos, a liberdade de expressão, de imprensa de cátedra e de crença, o conhecimento científico, o meio ambiente e até mesmo a tradição diplomática brasileira. Negando todo o processo político de décadas na luta pelo estado democrático de direito conquistado pelo povo brasileiro.

Os impactos são diretamente sentidos pelos segmentos mais vulneráveis e em alguns casos com efeitos nocivos que durarão gerações. Em 1988, com os horrores do estado de exceção da ditadura frescos na memória, o povo brasileiro escolheu o caminho de uma constituição cidadã que preconiza a justiça social, o acesso universal aos direitos fundamentais e a proteção contra as diversas formas de opressão e autoritarismo.

Hoje aqueles que estão no poder tentam reescrever a nossa história e apontam na direção de retrocessos dos valores fundamentais que guiam a democracia.

O momento exige união e vigilância constante. É preciso que as forças democráticas do país superem suas diferenças programáticas e estejam conectadas e engajadas em torno de uma pauta comum.

A defesa irrevogável da democracia, das instituições da República e dos direitos conquistados pela população brasileira. Com esse objetivo nasce o ‘Direitos Já – Fórum pela Democracia’, uma iniciativa suprapartidária, plural e aberta a todas e a todos, pessoas e instituições que desejam se engajar na vigilância e defesa da democracia no Brasil.

Direitos Já! Democracia sempre!

Crédito da foto: Ricardo Durat/Direitos Já

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