O presidente da Câmara dos Deputados no dia 31 de Março de 1964, quando João Goulart foi impossibilitado de assumir a presidência da República com a renúncia de Jânio Quadros, era Paschoal Ranieri Mazzilli – que muitos acreditam ser sorocabano, mas que aqui viveu, lecionou e foi coletor de impostos aqui, leia abaixo.
Ranieri Mazzilli – que hoje é nome de rua em Sorocaba, numa travessa da avenida João Wagner Wey – tinha a ilusão de ficar como presidente da república por 30 dias até que o Congresso elegesse de forma indireta um presidente que, por sua vez, ficaria à frente do país até 1965, quando novamente o brasileiro, de forma direta, elegeria o presidente.
Nada disso aconteceu, como se sabe. Os militares não cumpriram esse rito e ficaram sucessivamente por 21 anos no comando do país até a eleição pelo Congresso de Sarney (todos também sabem em quais circunstâncias) e a de Collor pelo voto direto em 1989. De lá para cá é o que sabemos que vem acontecendo com o país.
Mazzilli permaneceu no cargo por duas semanas, até 15 de abril de 1964, exercendo interinamente a presidência da República, até que em 9 de abril, uma Junta Militar, autodenominada Comando Supremo da Revolução, formada pelo general Arthur da Costa e Silva (Exército), o tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica) e o vice-almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald (Marinha), todos ministros de Ranieri, baixaram o Ato Institucional Número Um (AI-1), na época denominado apenas de Ato Institucional e que tinha caráter inconstitucional, que dentre as determinações estava a de que o Congresso Nacional se transformaria em Colégio Eleitoral para a designação do Presidente da República, embora mantivesse eleições diretas no ano seguinte, o que mais tarde iria ser alterado pelo AI-2. Assim, em 15 de Abril de 1964, o marechal Castello Branco, então Chefe do Estado-Maior do Exército, e o deputado José Maria Alkimim (PSD), secretário de finanças do governo de Minas Gerais, assumiam, respectivamente, os cargos de Presidente e Vice-presidente do Brasil.
Reportagens da época demonstram que o eleitor brasileiro apoiou o golpe em seu momento inicial. Porém, a monstruosidade em que o regime militar se transformou (com torturas, intimidações, ameaças), impossibilitando a divergência de pensamento e vendo ameaça em todo e qualquer movimento contrário ao pensamento único vigente à época, unicamente, é motivo para se estudar, aprender com o modelo daqueles anos e nunca mais se incorrer no mesmo erro. Por isso é aviltante a idéia inicial, já abortada como tantas outras do presidente capitão Bolsonaro em apenas 88 dias de governo, de celebrar o golpe. Pior, de obrigar que repartições militares comemorassem o golpe.
A arbitrariedade daqueles anos (em que pese a insistência dos defensores do golpe dos benefícios materiais que tenham decorrido no período) não merece se repetir. Nem mesmo celebração da data.
Quem foi Mazzilli
Paschoal Ranieri Mazzilli (Caconde, 27 de abril de 1910 — São Paulo, 21 de abril de 1975) foi um advogado, jornalista e político brasileiro, tendo sido presidente do Brasil em dois momentos na década de 60. O primeiro, após a renúncia do titular Jânio Quadros, e durante a ausência do vice-presidente João Goulart. Neste período, Mazzilli governou o país durante treze dias, de 25 de agosto a 7 de setembro de 1961. Mazzilli governou o Brasil, pela segunda vez, novamente por treze dias, de 2 de abril de 1964 até 15 de abril de 1964.
Entre 1930 e 1932 foi coletor de impostos em Taubaté. Participou como combatente na Revolução de 1932, como primeiro-tenente, ao lado dos paulistas, tendo sido promovido a capitão.
Em 1935 foi nomeado coletor fiscal de Sorocaba e Jundiaí e entre 1935 e 1939 foi professor de Economia na Escola de Comércio de Sorocaba.
Em 1940 se mudou ao Rio de Janeiro e não voltou mais a Sorocaba.
FOTO: Reprodução da foto de Ranieri Mazzilli publicada pela revista Manchete, de abril de 1964. Atenção para a legenda, onde se dava o prazo para a eleição direta.