Vejo que mais uma farmácia será aberta em Sorocaba, mas as livrarias ainda são escassas. Vejo que a crise econômica atinge em cheio o mercado de livros, mas passa bem longe dos produtos de cosmético e beleza. Isso explica muita coisa

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Livrarias

 

 

 

Imagem do Google Maps mostra a desproporção entre o número de farmácias e livrarias em Sorocaba

Durante uma década, ao menos duas semanas por ano eu passava meus dias livres em Buenos Aires, a vizinha cidade, tão fácil de chegar e extremamente acessível quando comparado a qualquer outra cidade de fora do Brasil. Há muitos atrativos por lá, mas sem dúvida a quantidade de livrarias (livros novos) e sebos (livros já manuseados) é um fator primordial, e que está diretamente associado a outro: os cafés. Os cafés portenhos não são apenas locais que se entra para tomar café e comer uma meia-lua ou um doce qualquer. São locais onde se entra para ler e escrever. Hábitos que me são muito caros.

Me lembrei disso neste final de semana ao sair do shopping Iguatemi Esplanada e ver que do outro lado da avenida, onde funcionava uma loja de motos, salvo algum engano, o espaço está em reforma para abrigar uma farmácia. Não, o correto é dizer mais uma farmácia.

Talvez não exista no mundo (que é vasto) uma cidade com tantas farmácias por metro quadrado. Essa nova, ali no Campolim, é de uma rede que tem mais de 100 unidades na região de Barueri. Até anos atrás, quando vigorava outra legislação, aqui era a cidade com mais hospitais psiquiátricos. Quando a crise não estava tão acentuada, era a cidade com mais haras do Brasil. Mesmo com toda a crise, ainda é uma das cidades com mais restaurantes de comida japonesa. Curiosidades, apenas.

E, para minha tristeza pessoal e que certamente tem um reflexo social imenso, Sorocaba também registra um recorde negativo: a cidade com menos livrarias e sebos. A Nobel, que deixou o fechado shopping Villágio, vive com seu estacionamento com muitas vagas ali na Barão de Tatuí. Restam as unidades nos shoppings Iguatemi, Pátio Cianê e Cidade de Sorocaba que, assim como a Nobel, são todas de grandes redes.

Desde duas tentativas heróicas (do Rafael ali na NogueiraMartins e dos amigos Nelsão e Enriberto ali na rua do Sesi, no Mangal) desconheço iniciativas de livrarias que não sejam de redes que tenham sobrevivido em Sorocaba.

Aliás, leio que as livrarias do Brasil vivem séria crise, muito mais acentuada do que qualquer outro setor. Em contrapartida, mesmo em meio a essa paradeira geral que tantos empregos está fechando, leio que o setor de cosméticos e beleza vive em pleno emprego e desenvolvimento.

Essa relação Muitas Farmácias x Raras Livrarias explica muito sobre o que é Sorocaba. Na verdade, explica o Brasil afinal essa mesma proporção se verifica na avenida Paulista (o coração financeiro da América Latina); em Ipanema o bairro nobre e glamoroso do Rio de Janeiro. Em Belém, no coração amazonense, não me recordo de ter visto nenhuma livraria. Estive no final do ano em Fortaleza, no Ceará, e havia uma farmácia em cada esquina, já as livrarias estavam confinadas nos shoppings.

O brasileiro está doente. Só isso explica tantas farmácias. O brasileiro está burro, só isso explica a inexistência de livrarias e ser o setor mais atingido pela crise que rouba os empregos de tantas famílias.

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