Vice-prefeita é aplaudida em bar, ganha apoio nas redes sociais e sua resistência na crise com o prefeito é interpretada como uma luta contra o macho opressor

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A vice-prefeita, Jaqueline Coutinho (que conseguiu liminar na Justiça para retornar à sua sala na Prefeitura de Sorocaba) voltou ao Jornal da Ipanema, da Rádio Ipanema 91,1 FM, nesta manhã de sexta-feira (04/07) onde foi entrevistada pelo diretor do Sistema Ipanema de Comunicação, Kiko Pagliato e os apresentadores Paulo Roberto Júnior e Alexandre Moreto. Na sequência, a vice-prefeita seguiu nos estúdios e foi entrevistada por mim dentro da coluna O Deda Questão.

Ela rememorou toda a história, reafirmou pontos de vistas já externados à imprensa, polícia e Ministério Público, mas também trouxe luz a alguns pontos que ajudam a interpretar o fenômeno em que ela se transformou nestes 40 dias desde o episódio do dia 23 de junho.

Na primeira parte da entrevista, respondendo a pergunta de Kiko Pagliato se ela estava aberta ao diálogo, a vice-prefeita afirmou que sim e que o “clima (com sua volta ao Paço) vai depender do prefeito. Quem vai dar o tom é o chefe do Executivo. Em nenhum momento me furtei ou causei algo que pudesse dizer que eu não estava respeitando ou que não queria auxiliá-lo enquanto vice-prefeita. O reconhecimento da Justiça, diante de tudo o que aconteceu, para eu retornar de onde eu nunca deveria ter saído, ele deverá tomar uma atitude para que tudo aconteça da melhor forma”.

Insisti neste tema durante a coluna O Deda Questão. Lembrei que a vice tinha acesso irrestrito à sala do prefeito antes da briga e quis saber duas questões: tendo ela acesso irrestrito ao prefeito porque teve a intermediação de três secretários (Pupin, Zuliani e Eloy) para se aproximar do prefeito (fato que não se consumou) e, mais, se dizendo aberta ao diálogo, por qual razão ela não se dirige ao prefeito e espera que na sua volta ao Paço o prefeito se dirija a ela. E ela resumiu o que talvez explique não apenas a razão dessa briga já durar tanto e ter tantos desdobramentos, mas principalmente explique a razão dela estar tendo tanto apoio nas ruas e redes sociais. Sua resposta foi: “Ele tem que se dirigira mim e não eu a ele porque não fui quem deu causa a esses fatos. Não estou errada. Estou correta. Quem foi rechaçada fui eu, portanto não tem cabimento eu me dirigir a ele. Se fizesse isso seria como me curvar a ele. Não. Não posso. Ele tem que ter humildade. Quem comete um ato errado tem que se dirigir a outra pessoa e retomar o diálogo. Estou aberta, repito, a conversar assim que ele se dirigir a mim”.

Causa que coloca Sorocaba no século 21

O conflito entre o prefeito e a vice – tratado pela imprensa em geral, inclusive por mim, como uma questão política e de polícia – no imaginário sorocabano tem outra dimensão. A vereadora Iara Bernardi (PT), ligada historicamente as questões das minorias, em especial das mulheres e homossexuais, vinha falando sobre isso. Mas, talvez por ser política e da oposição, não encontrou eco, pelo menos em mim. Me toquei dessa questão a partir da manifestação de uma ouvinte do Jornal Ipanema de anos, dona Vilma, que tive o prazer de conhecer quando ela me abordou na Padaria Real e se apresentou. Dona Vilma é uma senhora, ouvinte a quem classifico de anarquista. Ela tem posições sempre muito firmes e quase sempre contrárias à ordem estabelecida. E hoje ela me mandou uma mensagem que resume em que a vice se transformou: um símbolo de resistência da mulher contra a opressão do homem, neste caso Crespo. Dona Vilma me disse: “essa pretensão de que homem pode tudo é do século passado”, ou seja, Sorocaba entra no século 21 com a resistência da vice-prefeita em não se curvar ao prefeito.

O advogado Márcio Rogério Dias, contratado pela vice-prefeita, em sua argumentação, afirma que o prefeito tratou a vice como objeto ao usá-la na campanha (quando dizia a expressão “no meu governo e no da Jaqueline…’) e descartar (vá ser vice-prefeita na sua casinha) quando não era mais conveniente tê-la ao seu lado. Esse é o sentimento que cresce, a cada dia, nas redes sociais: o de que o prefeito é o macho opressor que deu de cara com a resistência da vice.

Aplaudida ao comprar frango assado

Esse sentimento ficou tão forte que a vice chegou a ser aplaudida num bar. Uma pessoa me contou. Achei que havia algum exagero. Perguntei para a vice hoje e ela contou a história em detalhes, confirmando a sua veracidade: “Aconteceu. Olha, eu me emocionei. Sábado passado fui no bar do Ceará, no Jardim Maria do Carmo (região do Parque das Águas) comprar frango assado para o almoço com minha família. Chegando lá, veio um senhor e falou ‘olha, acharam que a senhora não viria aqui. Mas a senhora tem o nosso apoio, a senhora nos representa, precisamos de político que tomem atitude’. No que eu estava saindo, os senhores que estavam na mesa, todos se levantaram e aplaudiram. Diante de tudo o que eu tenho passado,  essa é uma imagem que nunca vou esquecer. Vou levar para o resto da minha vida. A população precisa da esperança de termos ótimos políticos e representantes”.

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