Zé Franco: Sábio popular se vai, e ele era sua própria obra

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Aos 95 anos de idade, o comerciante José Franco de Camargo, ou simplesmente Zé Franco do Mercado Municipal, morreu sábado por volta das 22h na Santa Casa de Sorocaba, onde estava internado há uma semana, e seu corpo foi enterrado no domingo às 14h30 no cemitério Memorial Park. Zé Franco sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) há cerca de dois meses.

Zé Franco se tornou referência do Mercado Municipal e da venda de ervas medicinais, mas foi muito maior do que isso.

E quem explica a importância de Zé Franco é o secretário da Cultura da Prefeitura de Sorocaba, Werinton Kermes, num texto definitivo sobre essa referência de nossa cultura e com quem tive o privilégio de não apenas entrevistar como jornalista, ser parceiro quando ocupei rapidamente a pasta da Cultura, mas especialmente como amigo e frequentador do mercado onde ia, muitas vezes, só para jogar conversa fora com ele.

Assim se pronunciou Werinton:

Há dois tipos de conhecimento. Aquele formal e escolarizado, e outro que se aprende com a vida, o dia a dia, as experiências. Zé Franco era um sábio formado pela vida. Guardava um vasto conhecimento sobre ervas, sobre a alegria de viver, de conviver, compartilhar. Era um narrador da tradição, como descrito por Walter Benjamin (teórico da Escola de Frankfurt), aquele que sabe das coisas porque conhece profundamente o seu lugar de origem e a sua cultura, e experimentou a fundo a vida e as tradições daquele lugar.

José Franco guardava a memória da história sorocabana porque viu a ouviu sobre o nascimento da cidade, viu a cidade crescer e se transformar, foi parte, testemunha ocular de tudo isso. Conheceu até João de Camargo.

Nos seus mais de 90 anos vividos com paixão, imagine-se o quanto de histórias viveu, testemunhou e ouviu no mercado municipal.

Para este tipo de sábio, é mais contundente a perda… Pois o que ele sabia estava muito na esfera da memória oral, não registrada. Ele era o registro vivo. O que fica agora são os poucos registros audiovisuais, escritos, etc que se fez dele. E a história que as pessoas contarão que ouviram dele… Família, amigos, conhecidos. Quando morre um sábio da cultura popular, certamente é uma perda inestimável de história. Um acadêmico via de regra deixa uma obra, mesmo quando sua vida acaba. Um sábio popular se vai, e ele era sua própria obra.

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