O Brasil ficou em 5º lugar na nova edição do ranking que mede o quanto os países têm noção equivocada sobre a própria realidade. Chamada de “Os Perigos da Percepção”, a pesquisa anual é realizada pelo instituto Ipsos, que tem sede em Paris, na França. A cada edição, o foco das perguntas é diferente – portanto os rankings anuais não podem ser comparados uns aos outros ou serem vistos como evolução – certo? Seria se o Brasil não estivesse entre os líderes de percepção equivocada em todos os anos em que a pesquisa foi realizada desde 2015.
Os esquerdistas – sem citar a eleição de Bolsonaro ou a guinada à extrema direita dado pelo eleitorado brasileiro em outubro – trataram de compartilhar essa informação em grupos de whattsapp na tarde desta sexta-feira. O emissor da mensagem (pessoas que são de ideologia de esquerda) levava para a interpretação de que somos um dos países mais ignorantes do mundo, apenas agora, em 2018, quando a pesquisa mostra que somos já há 3 anos: Em 2017 (governo Temer) o Brasil era o 2º país mais ignorante do mundo em 2016 (governo Temer) o 6º mais ignorante; e em 2015 (governo Dilma) o 3º mais ignorante.
Entenda a pesquisa
O estudo deste ano – assim como de anos anteriores – foi realizado em 37 países e se baseia em entrevistas com pessoas em cada um deles sobre o que elas acham sobre a realidade que vivem. A pesquisa então compara esta percepção com os dados oficiais. Quanto maior a diferença entre percepção e realidade, maior a “ignorância” da população – e por isso o ranking geral foi chamado originalmente de “índice de ignorância”.
A cada edição, o foco das perguntas é diferente – portanto os rankings anuais não podem ser comparados uns aos outros ou serem vistos como evolução –, mas o Brasil esteve entre os líderes de percepção equivocada em todos os anos em que a pesquisa foi realizada. Em 2017, o país aparecia como o segundo país com menos noção sobre a própria realidade, atrás apenas da África do Sul. Um ano antes, ficou em sexto lugar.
Na edição deste ano, o foco das perguntas tratou sobre temas relacionados à formação da população, imigração, segurança, criminalidade, comportamento sexual, violência sexual, saúde, economia, ambiente e outros temas.
Em 2018, o Brasil ficou atrás de Tailândia, México, Turquia e Malásia. Os lugares em que a população tem uma maior noção sobre a realidade em que vivem são Hong Kong, Nova Zelândia, Suécia, Hungria e Reino Unido.
Qual o risco de ser ignorante
Essa falta de noção dos brasileiros sobre a própria realidade pode afetar até mesmo o funcionamento da democracia, segundo o ex-diretor de pesquisas do Ipsos, Bobby Duffy, autor do livro “The Perils of Perception: Why we’re wrong about nearly everything” (Os perigos da percepção: Por que estamos errados sobre praticamente tudo). Ao blog Brasilianismo (https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/), em setembro, Duffy indicou que candidatos extremistas tendem a se beneficiar da falta de noção da realidade.
Ele também explicou que o problema não é exatamente “ignorância”, como dizia a pesquisa originalmente, mas o fato de que as pessoas acreditam ativamente em coisas factualmente erradas, têm uma percepção equivocada da realidade (chamada “misperception” em inglês).
Segundo o livro, é possível ver uma correlação entre o nível de certeza que a pessoa tem sobre sua avaliação e o de percepção equivocada da realidade. Quanto mais certa a pessoa acha que está sobre um determinado tema, mais alta a chance de ela estar errada.
“A questão não é falta de conhecimento, mas que elas acham que estão certas, mesmo que não estejam. São duas coisas diferentes. Percepções erradas são mais difíceis de lidar do que ignorância. Quando as pessoas não têm conhecimento sobre algo, elas podem ser ensinadas. É mais difícil convencer pessoas que acham que sabem algo que na verdade está errado. Mudar a percepção das pessoas é mais difícil”, explicou.