A presidente Dilma Rousseff (PT) só passou à frente de Aécio Neves (PSDB) durante a apuração dos votos da eleição de 2014, quando ela disputava a reeleição, no domingo (26 de outubro daquele ano) às 19h32, com 88,9% do total apurado.
Esse momento só foi possível de ser precisado, com a exatidão do minuto, após um gráfico elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral mostrando a evolução dos votos recebidos pelos dois candidatos à Presidência naquele 2º turno.
Eu estava naquele momento no estúdio da então rádio Ipanema em Sorocaba. Exatamente no mesmo horário, via whattsapp, recebi de um empresário sorocabano que eu podia anunciar em primeira mão a vitória de Aécio. E esse empresário me disse: o pessoal do Banco BTG Pactual está com os dados e já informou o Aécio que ele pode se deslocar de Minas para Brasília para a festa da vitória.
A petista foi diminuindo a diferença gradativamente até que venceu com os votos do interior da Bahia. Ali nasceu a mentira de que as urnas eletrônicas são passíveis de serem fraudadas. Essa gente, como o empresário que me ligou, como “o pessoal” do Banco BTG Pactual nunca admitem erros. Eles sentem-se e agem como se fossem nossos donos.
Me lembrei disso tudo a ver reportagem do sorocabano Joaquim de Carvalho no portal Brasil 247 (https://www.brasil247.com/blog/o-audio-de-esteves-e-o-impressionante-relato-do-banqueiro-que-compra-amizades-nos-poderes-da-republica) que divulgou, com exclusividade, um áudio vazado do dono do banco BTG Pactual, André Esteves. Na gravação, que é de uma reunião do banqueiro com investidores realizada na última quinta-feira, 21 de outubro, o banqueiro revela a influência dele na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal (STF) e Banco Central (BC).
No áudio, o banqueiro relatou que foi procurado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na quinta-feira passada, quando quatro secretários do ministro da Economia, Paulo Guedes, pediram demissão do cargo. Na ocasião, a pasta informou os pedidos de exoneração do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e sua adjunta, Gildenora Dantas. Também pediram para deixar a função o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, e seu adjunto, Rafael Araújo.
“O Arthur Lira me ligou para perguntar o que eu acho”, afirmou. A declaração arrancou risos da plateia. “Arthur, vou dar uma palestra agora à tarde. Se quiser, dá um pulo aí”, disse Esteves.
O banqueiro também afirmou, na conversa, que recomendou o fatiamento da Reforma Tributária, iniciando pelo reajuste da tabela do Imposto de Renda (IR) e pela tributação de dividendos. Ele disse que é favorável à tributação de dividendos, e celebrou os ajustes feitos no texto original. “A reforma não é ruim, poderia ser um pouquinho melhor. Acho que falta mais densidade de formulação na equipe do Paulo. 80% do texto original foi corrigido. Gostei muito de o Congresso querer ouvir, acatar umas sugestões”.
Esteves contou, ainda, que conversou com ministros do STF, sem citar nomes, sobre a importância da autonomia do Banco Central. “Teve essa discussão de Banco Central independente, foi importantíssimo conversar com ministros do Supremo, explicar. Pô, o cara não é obrigado a nascer sabendo”, relatou o banqueiro no áudio vazado.
O banqueiro também afirmou que recebeu uma ligação de Roberto Campos Neto, presidente do BC, no ano passado, pedindo orientação sobre qual deveria ser o piso (lower bound) da taxa de juros brasileira, a Selic. “Caiu demais o juros na pandemia, a 2%. O Roberto me ligou para perguntar, onde você acha que está o lower bound. Eu não sei”.
Na avaliação de Esteves, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “é o favorito” para as eleições presidenciais de 2022 “se ficar calado”. Ele acrescentou: “Se o Lula pegar um Meirelles, colocar um Kassab de vice, e falar de meio ambiente, cultura, vai se tornar um favorito. Se nenhum dos dois caminhar ao centro, se Bolsonaro ficar malucão, vai ser alguém de centro-direita. Os dois candidatos ideais são Eduardo Leite e João Doria. Leite é um produto eleitoral com mais novidade, a despeito do excelente governo de Doria. As pautas que levaram Bolsonaro a ser eleito ainda estão por aí. O vento é de centro-direita”.
O escárnio do que a gravação revela ultrapassa o conteúdo quando se presta atenção à forma como ele se expressa, ri e não demonstra empatia alguma com quem sofre para colocar um pouco de gasolina no carro, comprar gás, pagar a conta de energia, comprar 1 kg de carne de boi; com quem foi jogado à extrema pobreza e busca ossos nos açougues; com quem não consegue um emprego.