A banalização da mentira e o presidente

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O dicionário ensina que a mentira é uma afirmação ou negação falsa dita por alguém que sabe de tal falsidade e espera que seus ouvintes acreditem nos seus dizeres.

Na contemporaneidade, a mentira constitui um dos principais atributos das relações sociais, instituindo-se como valor eticamente perverso; manifesta-se como ideologia ou é expressa cinicamente como “mentira manifesta”; a mentira revela-se sob as sutilezas enganosas e opressivas da burocracia, em certas justificativas cínicas de segredo ou de sigilo; destrói as manifestações do desejar, sentir, pensar e agir e esvazia o respeito à alteridade dos indivíduos; apresenta-se potencializada pela cumplicidade, mesmo que inconsciente, dos indivíduos, que a reproduzem em vínculos de farsa. O poder de difusão da mentira sustenta-se na banalização da malignidade que atravessa a vida dos homens. A mentira produz e difunde a atribuição de periculosidade a certos grupos e/ou nações – “os terroristas” – para justificar ações bélicas contra povos com fins prioritariamente econômicos, escreve Ângela Caniato no artigo “A banalização da mentira como uma das perversões da sociedade contemporânea e sua internalização como destrutividade psíquica”.

O presidente Jair Bolsonaro chegou ao ápice em suas mentiras. E por isso sua transmissão ao vivo, realizada na última quinta-feira (21 de outubro), foi derrubada pelo Facebook e pelo Instagram, quando, sem provas, Jair, literalmente, disse que a vacina contra a Covid-19 causa Aids. O que é uma das maiores mentiras já envolvendo a vacina de um lado e a Aids de outro. A decisão do Facebook e Instagram faz parte do combate dessas redes sociais à desinformação. Vídeos do presidente já haviam sido apagados do YouTube pelo mesmo motivo. Essa foi a primeira vez em que a live semanal de Bolsonaro é apagada do Facebook.

O exagero dessa mentira de Bolsonaro envergonhou até mesmo seus fiéis seguidores. É o tipo de mentira que faz quem acreditou em tudo o que ele disse até agora pensar que talvez os que diziam que ele falava mentira estavam certos. Depois dessa, quem acredita (nem falo dos não-bolsonaristas, mas dos próprios) na “verdadeira intenção” do passeio de Bolsonaro e seu Posto Ipiranga (Paulo Guedes) na feira no final de semana? Quem acredita que é a estiagem a única responsável pelo aumento exagerado na conta de energia? Quem ainda acredita que a gasolina vai subir, sim novamente, por razões que estejam fora do alcance do governo?

Só existem mentirosos porque há quem acredite neles. Lembre-se disso quando acreditar em qualquer coisa que esse presidente fale.

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