Posto Ipiranga 

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A GloboNews, na eleição de 2018, reuniu uma bancada com 10 ou 12 de seus jornalistas para sabatinar cada um dos então candidatos à presidência.

Eu começava a ver e largava no começo pois via a papagaiada que iria até o fim.

Então chegou a vez de Jair Bolsonaro, que eu havia conhecido de suas participações pra lá de especiais no programa CQC. E foi hilário. Nunca eu ri tanto, nem em stand-ups, TV Pirata, Casseta & Planeta… programas que eu gostava de ver na televisão. Me contorcia de gargalhar. Ele não se enquadrava no script e os jornalistas não sabiam o que fazer. 

Quando surgia uma pergunta de economia, o candidato Jair dizia que não entendia nada, mas perguntaria o que fazer para o seu Posto Ipiranga. Para quem não se lembra, a propaganda do posto Ipiranga era sempre alguém perdido numa estrada que parava pra perguntar como chegar a algum destino e um simplorião dizia: Pergunta lá no posto Ipiranga. O sujeito retrucava e a resposta era a mesma: Pergunta no posto Ipiranga… No caso, o Chicago boy Paulo Guedes, um dos meninos da Escola de Chicago, era o posto Ipiranga. 

Nunca imaginei que o candidato Jair pudesse ter alguma chance de ser eleito. Ele não só foi, como iniciou uma revolução (a mudança drástica também pode ser da extrema-direita) buscando a destruição de instituições como a imprensa, STF, servidores públicos…

Mas o que Jair e seus eleitores menos podiam imaginar é que na reta final da campanha onde ele busca mais oito anos de mandato o seu Posto Ipiranga, justamente ele, tivesse dado com a língua nos dentes sobre o plano futuro para “otimizar” os recursos “revolucionando” a forma de reajuste do salário mínimo e do seu vínculo com a aposentadoria. Já vi economista mostrando como vai definhar o valor que o aposentado recebe.

A consequência do impacto explosivo dessa declaração eu vi ontem de manhã na farmácia que sou freguês no Jardim São Paulo. Estranhei que eu cheguei e o Glauber, há tantos anos ali, não me disse nada de eleição. Então eu toquei no assunto: Última semana…e ele me interrompeu com uma pergunta: É verdade o que o Paulo Guedes falou da aposentadoria e salário mínimo? Eu disse que sim.

Ele disse que isso o chateou porque o pai dele recebe um salário de aposentadoria e a mãe tenta há três anos se aposentar por invalidez, devido a uma hepatite crônica, mas não consegue. E por causa da doença ela também não consegue trabalho.

Ele, que nem gosta de Bolsonaro, mas tem convicção do seu ódio ao PT, apenas lamentou: Esse cara não podia fazer isso… O papo foi tão sério que nem consegui atormentar ele como é meu hábito.

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