Adeus minha chef de cozinha preferida

Compartilhar

Quando a Cris me perguntou se eu estava sabendo…

Quando o Will me disse que estava sem condições de digitar…

Quando a Capitânia dos Portos confirmou o nome…

Quando os portais de notícia começaram a publicar…

Quando o fato viralizou nas redes sociais…

Quando a verdade estava consumada… Kátia estava morta… eu perdi o chão.

Que tristeza!

Não imagino que tenha sido uma morte tranquila. Há notícia de que ela tenha tido um ataque cardíaco antes de se afogar. Foram instantes de desespero, certamente. Momentos em que, imagino e suponho, nem é perceptível que o fim chegou.

Kátia Baiana foi um presente que ganhei da Jak Catena. Um dia ela me disse que eu precisava conhecer uma pessoa legal e foi amor à primeira vista, posso dizer.

Quando estava chegando perto de sua banca no Ceagesp, ela já gritava: Deeeeeddaaa, meu rei… Me tratava como se eu fosse alguém de fato especial. Ela tinha esse dom, aliás. Ela elevava a autoestima das pessoas.

O acaso da vida me levou a fazer O Deda Questão, que hoje se resume a este blog, mas que já foi uma coluna diária no Jornal da Ipanema (FM 91,1Mhz), a ser uma coluna semanal da TVR (canal 23 da Net). Lá, minha amizade com Kátia Baiana se aprofundou.

Ela tinha um quadro de culinária – que poderia estar em qualquer canal de TV do país, aberto ou fechado, ela nunca deveu nada a ninguém – e eu me atrevia a “invadir” seu espaço. Ela gostou tanto que passou a ser rotina. Eu adoro cozinha, adoro cozinhar e adoro entender como as pessoas que amam a culinária se relacionam com esse fazer. E esse era o caso de Kátia Baiana, a grande chef sorocabana. Ela amava cozinhar. Amava quando as pessoas gostavam do que ela fazia. Difícil achar alguém que não gostasse da “sua mão”.

O estereótipo de “baiana” foi um jeito que Kátia Gazel Lenti encontrou para se apresentar a Sorocaba. Seu acarajé era divino, mas seu arroz de jasmin, seus frutos do mar, suas massas e etc também eram. Tivesse sido Kátia Libanesa, Kátia Italiana, Kátia Paraense e seu sucesso teria sido o mesmo. Mas tinha de ser baiana, afinal sua terra natal é Ubatã (BA).

Kátia veio para Sorocaba acompanhando o marido, Flávio, que era dono de uma empresa na área de metalurgia, se não me engano. Um dia ela me contou que estava em Londrina e viu que Sorocaba começava a se transformar na “bola da vez”. O Flávio e eu viemos falar com o Renato Amary e o Luiz Leite e entendemos que a partir daquele momento Sorocaba seria a grande cidade do Brasil. E não é que acabou acontecendo? Me dizia ela, cheia de entusiasmo e sotaque.

Kátia foi chef de Jaime Lerner no Paraná, o grande urbanista que teve a chance de virar político e colocar em prática uma visão de cidade organizada do ponto de vista da qualidade de vida do seu habitante, ou seja, na estrutura urbana, na mobilidade, nas leis de incentivo, no bem-estar de quem vive nela. Ela tinha orgulho disso. E eu tinha orgulho desse orgulho dela. Eu tinha orgulho do orgulho que ela tinha da sua família, dos seus amigos e das oportunidades que conquistou em Sorocaba.

Kátia Baiana era uma pessoa do bem e achou uma maneira de retribuir todas as bênçãos que recebeu em Sorocaba através do Projeto Faz Bem Sorocaba, onde tinha a vontade de ensinar as pessoas que a culinária é um caminho positivo para quem busca o sucesso, desde que haja disciplina, foco, higiene e respeito a quem vai se servir da comida que você cozinha. A Associação Beneficente Lar Fraterno Irmã Dolores foi a primeira entidade a abrir a porta para o Faz Bem Sorocaba.

Kátia morreu jovem demais aos 65 anos de idade quando a embarcação “Mar Azul”, onde ela estava, virou após ser atingida por uma onda e naufragou na manhã de quarta-feira em Cananéia, no Litoral Sul paulista, quando fazia a travessia de Ilha Cumprida para a Ilha do Cardoso. Os três tripulantes e um piloto ficaram à deriva no mar por duas horas até que uma embarcação da Companhia Marítima da Polícia Militar Ambiental passou pelo local e os resgatou. Kátia foi retirada do mar sem vida.

Comentários