Quando o jornalista Tim Lopes morreu, fato ocorrido bem antes do advento da Internet, ao ser descoberto numa das favelas dos morros cariocas, me lembro de ter escrito algo sobre o fato dele saber o risco que corria.
Os noticiários da época disseram que Tim Lopes foi morto por traficantes. História que eu nunca acreditei. O que ele poderia dizer que já não fosse de conhecimento público, ou seja, no morro há traficantes e drogas. Sempre achei que ele descobriu algo que seria chocante, tipo a polícia protegendo os traficantes (o que apareceu anos depois nos filmes do José Padilha), alguma figura pública ligada ao financiamento do tráfico, outras apenas consumidoras… Enfim. Alguma novidade.
Essa sana de contar é o que pulsa no jornalista. É mais forte que ele essa vontade, é necessidade de se expressar.
O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, agora com as mortes confirmadas, tinham esse sentimento arrebatador de nos contar o que eles haviam descoberto numa das regiões mais inóspitas da Amazônia. (Aliás, selva, índio, primitivo… são os temas que os europeus legitimam como sendo “permitido” de serem abordados pelo Brasil. Se não se fala desses temas, não se está falando da identidade brasileira. Falar de qualquer outro tema é negar a si e se apropriar de algo do colonizador).
Bruno e Dom foram imprudentes ou irresponsáveis? Não. Mas ousados, sim. Eles poderiam ter mantido distância para se resguardarem. Dom, pelo que leio das pessoas próximas a ele, tinha “o sonho de salvar a Amazônia”. É ousadia, mas prepotência também. E isso não é culpá-los. É dizer o óbvio.
Em Sorocaba, o que não é exclusividade daqui, mas de qualquer cidade média ou grande, a polícia sabe da existência de ruas onde é proibido circular sem autorização do crime organizado. Quem manda é o traficante. Não entra carteiro, não entra entregar de jornal, não entra Mercado Livre… a não ser com autorização.
Tim Lopes virou “herói” quando morreu, emprestou seu nome a prêmio de Direitos Humanos… E hoje ninguém mais sabe quem ele foi, o que fez e porque foi executado.
Que a pressão internacional evite que o mesmo ocorra com Bruno e Dom. Que as urnas dêem a Bolsonaro a resposta adequada para a ofensa que ele fez aos dois, responsabilizando-os pelo ocorrido, negando a sua própria responsabilidade por suas ações e discursos incentivadores do crime organizado na Amazônia. Bolsonaro não pode ser apontado como o mandante desses crimes, mas como o responsável, pode sim. Não há dúvidas disso. Assim como o consumidor das drogas traficadas nos morros cariocas é o responsável pela morte de Tim. Assim como quem compra seu baseado para simples recreação, de modo inofensivo, também é o responsável pelo poder do crime organizado.