A entrevista já estava no seu encerramento quando Kiko Pagliato perguntou a Raul Marcelo (candidato a prefeito que abriu a segunda série de entrevistas da coluna O Deda Questão dentro do Jornal da Ipanema – FM 91,1Mhz) se ele usava algum tipo de proteção. E a surpreendente afirmação de Raul, de que usa carro blindado e se precave a respeito dos lugares onde vai, criou um clima de apreensão entre os jornalistas presentes no estúdio. Senti, igualmente, que sua afirmação causou impacto em muitos ouvintes que chegaram a comentar o assunto comigo.
O que mais ainda chama a atenção é a explicação de Raul Marcelo para usar carro blindado e se precaver a respeito dos lugares onde vai: ele era um jovem político, integrante do PT, quando acompanhou o assassinato do arquiteto Antônio da Costa Santos, mais conhecido como Toninho do PT, que exercia o cargo de prefeito de Campinas quando foi assassinado a tiros, às 22h15 do dia 10 de setembro de 2001.
Toninho do PT estava estava a apenas oito meses no cargo de prefeito de Campinas. Sua atuação contra o crime organizado rendeu-lhe várias ameaças, advindas também das reduções em até 40% nos valores pagos em contratos com empresas de serviços de merenda escolar e limpeza urbana, somadas à insistência do prefeito em desalojar casas para a ampliação do aeroporto de Viracopos – o que reforça a hipótese de crime político.
Raul Marcelo disse que nunca recebeu ameaças, nem mesmo nesta campanha, mas antes ainda do 1º turno, quando tinha início o processo eleitoral, ele já havia tomado a decisão de usar carro blindado.
O clima quente dessa eleição, particularmente a partir da pesquisa Ibope/TV Tem que indicou empate técnico entre Crespo com 45% e Raul com 41%, vem sendo insistentemente abordado por mim há duas semanas. A entrevista de hoje, inclusive, começou por este aspecto onde afirmei que o clima de baixaria estava restrito ao mundo virtual e que não tinha conhecimento de nenhum tipo de confronto no mundo real. Raul Marcelo confirmou que só tem conhecimento desse clima nas redes e conclamou as pessoas que são simpatizantes a candidatura dele a não atacar e nem rebater com violência os ataques.
Raul Marcelo também usou a expressão “quero crer” para dizer que não acredita que Crespo saiba dos ataques que estão sendo desferidos contra ele, inclusive sua família onde, informou Raul Marcelo, não pouparam nem mesmo a irmã mais velha dele que tem paralisia cerebral. Raul afirmou que se tivesse algum indício pequeno, que fosse, de que Crespo sabe o que dizem e quem diz ele nem cumprimentaria ele, mas não é o caso e por isso segue respeitando Crespo.
Vai reconhecer a vitória
Ao longo da entrevista Raul afirmou que caso não seja eleito vai seguir com suas idéias e no espaço político vai combater idéiai de Crespo que ele não concorda e citou o exemplo da destinação do lixo. Crespo quer um incinerador e Raul aumentar a coleta seleitiva que hoje é de 2% para 40% até o final do seu mandato. Diante disso, perguntei se ele faria como Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, que declarou que não vai reconhecer uma vitória de Hillary Clinto, candidata do partido Democrata. Ele disse que vai, sim reconhecer a vitória de Crespo e, mais, que como deputado seguirá trabalhando para trazer benefícios para Sorocaba e ajudando a administração municipal.
Outros temas
A entrevista durou das 8h às 9h30, teve a participação dos ouvintes e abordou dezenas de temas: cargos de confiança; uso da linha férrea; como lidar com ocupação das escolas; sua posição contrária à PEC 241 e à reforma do ensino proposto por Temer; sua posição de ter sido a favor da Dilma e contra o impeachment; se recusou a comentar sobre o ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o Mensalão, de que o PCC é ligado ao PSOL, mas disse que questiona se o PSDB de São Paulo não fez acordo com o PCC; disse que não aborda a ideologia do PSOL na campanha porque em eleição municipal o eleitor quer mais saber de temas locais; disse que ninguém precisa ter medo de um governo dele; explicou que existem 50 mil terrenos nos vazios urbanos de Sorocaba e todos eles (públicos ou particulares) serão requisitados para hortas comunitárias, mas que devolve ao dono particular quando ele for construir e requisitar com 30 dias de antecedência – aliás pergunta da vice de Crespo Jaqueline Coutinho; disse que vai criar a Secretaria da Juventude e a Secretaria da Igualdade Racial; e por fim falou de sua história de católico, sobre como evitar que os jovens sejam cooptados pelos narcotraficantes e disse que Aborto é uma decisão médica e não política. Insisti, dizendo que ele estava sendo liso ao não dizer nem sim e nem não sobre o aborto, e ele insistiu que além de sewr uma política pública de saúde nacional, a questão é mesmo médica e não política.
Minha percepção
Raul Marcelo se manteve nesta última entrevista antes da eleição com a mesma coerência e tom das respostas que dá desde antes do início da campanha. Ainda como pré-candidato, Raul me concedeu entrevista na ITV e me lembro do quanto me impressionou o domínio que ele tinha sobre os temas que propunha como a atenção à primeira infância (crianças de 0 a 6 anos). De lá para cá ele não mudou. Para mim, esse comportamento apenas demonstra que ele se preparou para chegar a este ponto da campanha. E quanto mais o clima esquenta, mais ele está seguro de que não deve entrar na onda e seguir o seu ritmo. Apenas no domingo à noite, quando sair o resultado das urnas com a escolha do sorocabano, será possível saber se ele está certo para já, pois para o futuro não tenho dúvida de que está. Sendo eleito ou não agora, que Raul Marcelo não tenha agora e nem nunca o destino de Toninho do PT.