De uma perspectiva histórica, e porque não filosófica, o que se vê hoje nas agressões trocadas pelo atual prefeito e pelo ex-prefeito são embates sobre o reconhecimento das forças de poder constituído na cidade

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PannCrespoNa transição, clima ameno dominou a relação conturbada do ex e atual prefeito de Sorocaba

O prefeito Crespo, quando vereador, já era um feroz crítico da administração do prefeito Pannunzio. Na oposição, Crespo apontava falhas e reprovava as decisões tomadas por Pannunzio. Crespo chegou, inclusive, a negar que fosse de Pannunzio o poder sobre toda a máquina administrativa da prefeitura chamando-o de rainha da Inglaterra.

Eleito prefeito, Crespo ainda se pega agindo como se estivesse na “pele” de vereador. Eu tenho sido um contumaz crítico dessas atitudes. Crespo passou a maior parte dos seus primeiros 90 dias no comando do Poder Executivo da cidade apontando a herança maldita recebida de Pannunzio.

Ao fazer isso, mesmo que involuntariamente, Crespo nega o governo Pannunzio. Mas isso tem pouco ou quase nenhum significado uma vez que Pannunzio é apenas mais um dos prefeitos no mandato de 20 anos do PSDB no poder. Não se trata da personalidade em que ocupa o cargo, portanto, mas da chancela do partido que ganha.

A chegada de Crespo, também já afirmei isso lá atrás, significa o fim desse ciclo tucano. Mas significa também o início de um novo ciclo ou tão somente o instante da personificação de uma pessoa, no caso Crespo? Quando Renato Amary foi eleito pelo PSDB em 1996 o que prevaleceu naquele momento foi um marco na divisão de poder da cidade, significou o fim de uma longo ciclo dos Mendes. Apenas 20 anos depois, da perspectiva da história, se pode classificar o que foi o ciclo tucano. O estilo e credibilidade que o eleitor brasileiro dá ao PSDB ficou maior do que o da pessoa. Portanto, Crespo, no momento, pode ser apenas um prefeito ou (e o tempo dirá isso lá na frente) o que deu início a um ciclo.

Para que Renato tenha ainda hoje seu sucesso como prefeito aclamado (lembrem-se que ele foi o padrinho da eleição de Crespo) foi preciso que Vitor Lippi, seu sucessor, assim o tivesse reconhecido. O sucesso de Lippi (basta ver a sua estrondosa votação para deputado federal apenas em Sorocaba) também acontece a partir do reconhecimento que sua gestão teve de Pannunzio. E o caminho inverso também é verdadeiro, deixando de lado as desavenças entre eles, inclusive a de mudança de partido, Renato nunca deixou de reconhecer Lippi e Pannunzio.

Agora, o que se vê? Se vê Crespo, o sucessor de Pannunzio, não apenas deixando de reconhecer a administração passada, como sendo cruel crítico dela. E se vê Pannunzio bastante longe de externar qualquer reconhecimento de Crespo.

A prova disso foi obtida por Caio Rossini, repórter da rádio Cruzeiro FM, na última segunda-feira quando da inauguração da Penitenciária Feminina de Votorantim. O evento concorrido que contou com a presença do governador Alckmin e de Carmem Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, foi o primeiro onde Crespo e Pannunzio estiveram frente a frente desde a posse de Crespo. Crespo foi em direção a Pannunzio que aceitou o cumprimento. Um cumprimento protocolar que não foi registrado por nenhum jornalista de imagem pelo que eu saiba. Pois bem, Caio Rossini quis saber de Pannunzio o que ele estava achando do governo Crespo. E a resposta foi dura: “Governo? Que governo? Até agora só vi reclamação e choradeira.” Ou seja, nenhum reconhecimento.

Na perspectiva da filosofia, reconhecimento refere-se a uma necessidade presente nas relações intersubjetivas e que se expressa nos conflitos humanos, desde a esfera da família (do amor), até a da sociedade civil (do direito) e do Estado (da solidariedade). Na perspectiva da comunicação, o reconhecimento só é percebido pela sociedade (cidadão comum) quando os líderes com os quais ele se identifica assim o fazem. E se não há esse reconhecimento, há a sensação de que tudo está ruim. Vivemos isso em âmbito nacional e também no que diz respeito ao poder municipal. É ruim tudo isso para Pannunzio, Crespo, mas principalmente para o sorocabano.

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