Raramente uma morte ocupou minha Linha do Tempo, do Facebook, tão intensamente como ocorreu com a de Paulo Cézar Pereio, o ator de cinema, novela, teatro, televisão e de si próprio. O algoritmo, ou meus amigos de rede social, sabia o quanto eu o acompanhava.
Raramente uma persona, do termo grego, teve tanto espaço na mídia, seja a tradicional ou a de guetos, como Pereio. Ele foi maior que seus personagens. Ele, como entrevistador no Sem Frescura, falava mais de si do que de seu convidado. Suas personagens tinham tanto, ou mais de si, quanto do autor.
Raramente alguém foi tão canalha como Pereio ao deixar de pagar pensão à mãe de seus filhos. Ao ser um pai ausente. Ao esculachar quem tentava se aproximar dele.
Raramente um ator interpretou tão intensamente a si mesmo quanto Pereio o fez em “Eu Te Amo”, que abriu a série adorável de filmes de Arnaldo Jabor. “Eu Te Amo” da Sônia Braga e minha preferida Vera Fischer, mas sobretudo de Pereio. Aliás foi ali que o conheci. E passei a amar a odiá-lo.
Nunca encontrei Pereio pessoalmente, mas me sentia íntimo dele. Aos poucos fui me ocupando dele, me interessando, entendendo a sua sinceridade e passei a amar amá-lo. Sua liberdade em ser o que era… mesmo que isso chocasse. Ele foi o primeiro que vi a não fazer joguinhos emocionais ou sociais. Eu nunca fui Pereio. Talvez gostasse tanto do que via nele, pois é o que não vejo em mim. Sou um típico hipócrita social.
Não é fácil ser assim como Pereio. Para alcançar a sua fidelidade a si Pereio abusava do álcool e de comprimidos. Das noites e madrugadas em claro. Passou sua vida pública assim. Sem as drogas, um novo Pereio emergiu. O que está na foto, publicada por Stepan Nercessian, o presidente do Retiro dos Artistas, onde Pereio passou os últimos três anos até morrer domingo em razão de severas complicações no fígado. A cara de domesticado da fera, quase irreconhecível pra mim, é assustadora. Prefiro a imagem de sincero (mau?), a do sarcástico, do autoconfiante a essa de homem bom arrependido.