Fichamento n° 6

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Quando eu tinha 13 anos, descer no tobogã do Parque de Diversões montado no terreno que havia na frente do CIC (que levou décadas até se tornar a praça que existe até hoje no local) era a mania do momento.

Eu olhava as pessoas descendo e sentia uma boa sensação com aquele subir e descer com a facilidade com que uma faca desliza na manteiga guardada fora da geladeira.

Mas quando desci pela primeira vez vi que não era algo simples. A estopa ficou pra trás e desci esfregando o shorts e fiquei com queimaduras, devido ao contato da pele com a chapa do tobogã.

Nas vezes seguintes, logo aprendi a ficar em cima do saco de estopa até o final, mas meu desempenho era medíocre. Não deslizava. Aos poucos fui me soltando, melhorei, mas nunca fui brilhante. Quando me senti suficientemente familiarizado descendo no tobogã, como assistindo a descida dos outros, me soltei, e vim batendo a bunda, pulando como pipoca, invadindo a faixa ao lado da minha. A cabeça ricocheteava como a das pessoas que sobem num touro chucro nos rodeios. 

Para que eu conto essa história?

Para dizer a você que é assim que me senti lendo “A Força do Passado”, livro de Sandro Veronesi, de 2020, editado pela Rocco no Brasil em 2003. Parecia ser um livro suave, não que não seja, mas como a descida de um tobogã, a cada página a história ganha ritmo, depois velocidade e quando percebi a história já havia me sacudido, retirando do fundo de mim sentimento que eu imaginava extinto.

O enredo de “A Força do Passado”, nome extraído de um poema de Pasolini, aborda a vida de um escritor de livros infantojuvenil, de 37 anos, a partir do momento em que ele recebe um prêmio em dinheiro (equivalente a 42 mil reais) no concurso de uma pequena cidade. Uma moradora reclama que o prefeito não dá dinheiro para o tratamento da doença do seu filho. Então ele dá o prêmio à essa mãe.

Depois, ele se sente ameaçado por um taxista que conhece os hábitos de seu filho de 8 anos e foge de Roma, para a casa do sogro no litoral, com a esposa e filho. Depois o taxista reaparece e diz ser amigo de seu pai, que morreu recentemente, e conta que o pai não era italiano, mas russo, não era católico, mas ateu, era um espião comunista. Depois sabe que sua mulher havia tido um caso amoroso extraconjugal e, então, ele sofre um acidente com sua lambreta e passa por cirurgia. Tudo isso num espaço de quatro dias.

Uma vida, sua identidade, as certezas sobre si se desmancham e a nós leitores cabe a completude dessa nova realidade. Essa seja, talvez, uma das magias do livro. Nós somos colocados no lugar do protagonista e, a nós mesmos, dizemos: A nova vida será assim. E nos perguntamos se é possível que seja com tantas novas informações sobre nós mesmos. Que vida teríamos tido se soubéssemos tudo o que a personagem acaba de descobrir! É uma temática bastante sensível a mim. Talvez por isso tenha tanto gostado deste “A Força do Passado”.

Até eu ler esse livro, achava que Mário Benedetti e Domenico Starnonne eram meus escritores favoritos. Seguramente Sandro Veronesi entrou nesta lista pela temática, capacidade narrativa e domínio literário da composição de sua história. 

Adorei ter me encontrado com esse livro e autor.

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