A reunião do Conseg (Conselho de Segurança) Centro de Sorocaba na noite de terça-feira foi praticamente uma cópia de todas as outras reuniões do ano com os moradores implorando por socorro e os comerciantes apontando a falha na fiscalização para o cumprimento da lei.
Só não foi mais uma reunião igual as anteriores porque um dos participantes, sem ligação institucional alguma com a polícia, prefeitura ou entidades do comércio e assistência social que estiveram presentes, e se apresentando como especialista em segurança, sugeriu aos moradores do centro que ajam como ele, ou seja, façam uma mistura de creolina com naftalina dissolvida e pulverizem os locais que não desejam ver ocupados por desocupados ou moradores de rua. Eles não suportam esse cheiro e vão embora.
Como era um participante autônomo da reunião, onde a presença e manifestação é livre e aberta a quem quiser participar, a sugestão desse senhor, que se vestia de terno, foi apenas isso, uma manifestação, que os outros participantes da reunião aparentemente não levaram à sério.
Apesar de ter entrado por um ouvido e saído pelo outro, provavelmente nem tendo sido registrada em ata, tamanha a forma absurda com que a sugestão foi interpretada, é importante se pensar nessa sugestão do homem de terno uma vez que ela está carregada de significados.
- Parem de implorar ação das autoridades, elas não fazem nada. O ano acabou, vocês reclamam a mesma coisa desde sempre. Ajam pelas próprias mãos.
- Na impossibilidade de matar essas pessoas, afastem elas para longe.
- Não existe nós. Existe a gente aqui e eles de lá querendo ficar aqui.
Enquanto o tempo passa, e de reunião para reunião (que ocorre mensalmente) as reclamações seguem sendo as mesmas e sem solução, é possível que no futuro alguém já não ache absurda e comece a dar ouvidos a sugestões como essa. Quem nunca ouviu sobre casos de se colocar fogo em morador de rua? Quem, alguns anos atrás, imaginava que o bolsonarismo teria tantos adeptos no Brasil? É na falha recorrente em responder à altura um pedido da sociedade que essa sociedade muda as autoridades na esperança de se ver atendida e ter uma vida melhor e, se surpreende, com algo pior.
A melhor política de segurança, sem dúvida, é a política econômica, social e cultural que incluí as pessoas. A que política permite que as pessoas vivam dignamente. Que se sustentem. Enquanto isso não for uma realidade, mais haverá essa divisão das pessoas sem nada buscando as migalhas daqueles que tem um pouquinho e as que tem um pouquinho buscando se proteger. O que tem bastante, por enquanto, raramente são incomodados com uns tiros dentro do shopping, com um sequestro relâmpago.