Jornalistas confinados e ameaçados

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Sobre a cobertura jornalística da posse de Jair Bolsonaro, uso a postagem de Renato Janine Ribeiro, um dos mais brilhantes professores do Brasil, ex-ministro da Educação na segunda gestão do governo Dilma, para externar o medo, confinamento e ameaça vividos pelos profissionais responsáveis em contar o que aconteceu na cerimônia.

Eis a íntegra da sua postagem:

Faz 2 ou 3 meses, contei aqui (página dele no Facebook). Um partido alemão de extrema direita negou entrada a um jornalista, na sua conferência de imprensa. Pois TODOS os outros jornalistas se retiraram.

Na mesma ocasião, aqui alguém foi barrado numa entrevista, e os colegas nem tchans. Não lembro de qual candidato.

E ontem?

Os jornalistas ficaram muitas horas confinados, sem poder ir de um lado para o outro, só com água, tendo de comida só a que levaram em sacos plásticos transparentes, Na Câmara, ficaram – centenas deles – em sala sem cadeiras, sentados no chão ou de pé. Um banheiro apenas.

Pois bem, foi essa a principal manchete? Não.

Os jornais reagiram?

Um jornal diz que o confinamento dos jornalistas durante o dia todo irritou “jornalistas estrangeiros”: de fato, alguns se retiraram.

Perguntei: não irritou os brasileiros? Por que o jornal os omitiu?

Numa matéria ótima, Monica Bergamo conta que avisaram para os repórteres não fazerem movimentos bruscos, senão um atirador de elite poderia disparar para MATAR. Aí uma jornalista disse que queria ir embora. A empresa para a qual ela trabalha (não identificada) a convenceu a ficar.

Inacreditável.

O que era certo fazer?

Da parte dos jornalistas, irem todos embora.

Da parte dos seus patrões, não só apoiarem isso, mas tomarem a iniciativa de retira-los.

Imaginem, converter a Esplanada em campo de batalha, como a zona desmilitarizada entre as duas Coreias, onde se atira ao menor movimento suspeito.

Alguns dirão: mas a imprensa tem o dever de cobrir.

Mas, quando o governo não apenas não garante sua segurança, mas é o principal fator de ameaça à imprensa, não é assim não.

Podia ir cobrir nas ruas, falar com o povo, fazer entrevistas e comentar o que saísse na NBR ( = a TV do governo, que transmite cada passo do presidente da República).

Vão ser anos difíceis para a imprensa, que vai precisar mostrar seu valor.

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