Línguas

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Ao acabar de ler “Línguas”, o mais recente livro do italiano Domenico Starnonne lançado no Brasil, fiquei pensando em algo que sempre penso: Os autores são autores de um único bom livro?

Não que “Línguas” seja um livro ruim. Aliás, bem longe disso. Há uma lógica em sua estrutura e uma narrativa que faz com que a leitura flua. Há subtextos. Há a justa pergunta sobre o motivo do livro se chamar “Línguas” e a resposta ser bastante clara no que é óbvio e no que é subentendido na história do narrador, sua avó e a menina milanesa.

Mesmo assim, “Línguas” não chega à altura de “Laços” ou “Assombrações”, livros de Starnonne também publicados no Brasil. Estes, sem dúvida, obras-primas narrativas, estruturais e lógica. São dois de meus livros preferidos.

Fico pensando se, caso não houvesse contratos entre autor e editora e demais burocracias, Starnonne teria publicado “Línguas”. Fico pensando, aliás, se um autor pensa nestes termos, ou seja, de publicar o que é apenas bom.

Um autor escreve, antes de mais nada, porque não há outra coisa a fazer, para ele, senão escrever. É um ofício, mas antes é sua vida. Não há escritor que não escreva. Assim penso e por isso tenho dificuldade em entender quem fala em bloqueio. Aliás essa temática é argumento de uma infinidade de filmes. É ilógico. É como se um médico tivesse bloqueio e não atendesse mais pacientes. Salvo algum problema que impeça isso, cumprir o ofício é o que faz quem se dedica a tal ofício. 

“Línguas” fala dos dialetos italianos (talvez o país onde esta realidade seja mais dominante), das expressões do amor, das conversas mentais, da língua da fé, crença, família…

Claro que gostei de ler, mesmo esperando o tempo todo por encontrar a força e potência de “Laços” e “Assombrações” e me decepcionar a cada página. Fosse de outro autor e certamente eu teria feito outra interpretação do livro, tipo, olha que livro bom, quase um Starnonne. Rssss. O que é total imbecilidade.

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