Oito moléculas 

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Ouvi no noticiário da rádio Eldorado sobre os problemas emocionais que o tempo perdido pelo paulistano diariamente no transporte, a poluição e os mais diferentes e intensos barulhos afetam a saúde mental dos moradores da maior cidade da América Latina.

Um fato, significativo, me chamou a atenção na reportagem quando o locutor citou uma pesquisa que constatou oito moléculas diferentes de antidepressivos no esgoto paulistano, após o excremento passar por análises laboratoriais. As moléculas foram descartadas na urina e fezes pelos moradores. Para serem detectadas, não são poucos xixis e cocôs com medicamentos. São muitos!

Semanas atrás, dado oficial do IBGE, mostra que já são mais igrejas no Brasil, somadas as diferentes correntes e credos, do que escolas.

Minha conclusão diante de tais dados é lógica: Quem pode pagar por uma consulta médica com psiquiatra toma remédio. Quem não pode, vai na igreja. Há os casos extremos e, na minha visão, piores: Os que não tomam remédio, nem buscam conforto espiritual e se viciam em drogas (as cracolândias existem em qualquer cidade grande) ou álcool.

Outra conclusão lógica: Está todo mundo sofrendo. Penso que sempre estiveram. Hoje em dia, porém, ninguém sofre mais isoladamente, ou seja, quem sofre expõe sua dor o que fez desse sofrimento o grande negócio empresarial global. Não é o petróleo, não é a comida, não é o entretenimento em suas variações sem fim. É a busca pelo fim do sofrimento.

Olhando para a história da humanidade, o sofrimento (a angústia, a ansiedade, a culpa, o medo, a estagnação…) é o único elemento que se mantém imutável seja no homem pré-histórico ou no usuário das redes sociais e AI ( inteligência artificial).

Nos tempos atuais, que não são mais os shakespearerianos do ser ou não ser, nem os industriais do ter, mas são o do parecer, nunca se soube tanto sobre o sofrimento quanto se nega sua existência. Ninguém admite a dor do sofrimento sem que seja para enfrentá-la na vã tentativa de vencê-la. Então toca postar fotinho feliz. Toca viver na e de aparência. Toca enricar quem faz dessa condição humana unicamente um lucrativo negócio tomando barbitúricos, pagando o dízimo ou se drogando. Simplesmente poderiam admitir o óbvio, que se sofre, e buscar momentos bons. Mas inventaram a felicidade, as pessoas acreditam nela e se sentem fracassadas por não alcançá-la. Só são tão estúpidas que não perceberam que ela não existe no mundo real, apenas no inventado.

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