Como observador político, assim que ganhou publicidade o ato do prefeito Crespo, na tarde da última segunda-feira, de tirar do seu governo, que é dele, e não do cargo, que é dela, a vice-prefeita Jaqueline Coutinho, entrei ao vivo no programa Flash News da rádio Ipanema (FM 91,1Mhz), no quadro da tarde da coluna O Deda Questão.
Naquele instante, minutos depois do calor da decisão e enquanto o prefeito concedia a toda imprensa da cidade uma entrevista coletiva, onde chamou a vice-prefeita de criminosa, entendi que o prefeito falhava numa regra básica do chefe, o de entender o que estava acontecendo e, diante do sentimento de estupefação refletido pela competente e querida Kátia Soares, apresentadora do Flash News, entendi que esse era igualmente o sentimento de milhares de sorocabanos. E afirmei que o prfeito estava focado no problema e não na solução.
Primeiramente cabe a um chefe identificar o momento que vive e saber se esse momento é um problema. Identificando, portanto o problema, é preciso saber onde focar para obter melhores soluções para resolvê-lo.
O que o manual ensina: que quando o chefe foca no problema, ele pode achar uma solução, mas esta solução, quase sempre, gera novos problemas em uma cascata infinita de problemas. Por isso, o manual ensina o chefe a focar na solução do problema de maneira a evitar danos e efeitos colaterais que tiram a atenção ao que interessa.
Crespo viu o problema: A vice-prefeita estava em rota de colisão com sua assessora direta. Ele focou no problema, ou seja, a assessora que é o lado mais fraco precisa de ajuda no combate com a vice e eu como o mais forte vou ajudar a assessora. Fez isso com tanta ênfase que tinha certeza que estaria resolvendo o problema, porém, apenas criou uma série em cascata de outros que se alongam desde o dia 23 de junho e não tem mais data para acabar.
Resultado: o prefeito tirou toda a atenção do que verdadeiramente interessa: Sorocaba e os sorocabanos. Seu plano de governo e a aplicação dele na cidade. São dezenas de ações de governo em curso (desde excelentes, como é o mutirão da saúde, até catastróficas, como a greve de ônibus) que ficam absolutamente em segundo plano, ou seja, perdem-se tempo e energia com o que não interessa.
O prefeito foi eleito com o objetivo de solucionar problemas da cidade e não o de criar problemas que tiram a atenção da razão pela qual ele foi eleito.
Exemplo da escola de chefe
No manual do chefe, usualmente são usadas “Lendas urbanas – contos de administração” como exemplo.
Primeiramente é apresentado o problema: “Astronautas, tanto os americanos quanto os russos, perceberam que não era possível escrever com uma caneta comum no espaço, pois a tinta não saia da caneta devido à falta de gravidade. A Nasa, com toda sua tecnologia e profissionais qualificados, investiram muito dinheiro em pesquisas e conseguiram inventar uma caneta que escrevia mesmo em gravidade zero, os astronautas americanos ficaram orgulhosos e usaram sua nova tecnologia no espaço. A agência espacial russa simplesmente passou a usar um lápis. Ou seja, não é possível escrever de caneta no espaço”.
O que acontece quando se foca o problema: “A Nasa focou no fato da caneta não conseguir funcionar no espaço e então ela gerou novos problemas para resolver este, teve que gastar muito dinheiro, teve que investir tempo e recursos em pesquisa, entre inúmeros outros novos problemas”.
O que acontece quando se foca o problema: “A agência espacial russa teve o seu foco na solução e, entre as várias formas de se escrever sem precisar usar uma caneta, procuraram uma solução com melhor custo benefício, usar lápis.”
Conclusão: A caneta não fazia parte da solução, fazia parte do problema. Quando se descobre um problema, temos que primeiro pensar em qual é o objetivo, o que é preciso ser feito para que o objetivo seja alcançado, em vez de perder tempo tentando arrumar o que está causando o problema.