O movimento grevista de policiais militares no Espírito Santo – que levou à falta de policiamento nas ruas de todas as cidades daquele estado e que teve como consequência a escalada da violência em Vitória, capital daquele estado, e cidades nacionalmente conhecidas como Cachoeira do Itapemirim, local onde nasceu o maior cronista brasileiro, Rubem Braga, além de um dos mais populares cantores do Brasil, Roberto Carlos – surpreende o Brasil. Estarrecido, o país inteiro vê as cenas do caos que tomou conta daquele estado. Já são mais de 100 assassinatos.
As cenas do Espírito Santo revelam um brasileiro amoral (mais do que imoral no meu entender) que por não ter quem o vigie, ou prenda, se viu no direito de roubar e saquear o que sempre teve vontade de ter, mas não tinha.
O movimento avança para o Rio de Janeiro e já escutei que existe uma movimentação para que a Polícia Militar de São Paulo já se organiza para a mesma paralisação.
Diga Não a qualquer regime de exceção
Por lei, a paralisação da polícia militar é proibida. Ao contrário de qualquer outro trabalhador, os policiais não têm direito à greve por mais justa que seja, como o é, as reivindicações que fazem. O direito à reivindicação não pode tornar o povo brasileiro refém da falta de segurança.
Mas o diálogo é o caminho possível. A aplicação da lei é o caminho.
Me choca ver pessoas do meu convívio, mesmo que por grupos de WhattsApp, entendendo que a saída é o endurecimento. Pessoas, em tese ao menos, que deveriam conhecer a história do Brasil, recente, aliás, e defendem o que há de pior, um regime de exceção.
Me reservo o direito de dizer quem escreveu o que publico a seguir por duas razões, a primeira por ter me dito num canal pessoal, de whattsapp, e não para o jornalista que é quem se manifesta aqui; a segunda para não expor essa pessoa que é bastante conhecida em Sorocaba pelo seu ramo de atividade. Enfim, importa mais o que ele pensa, e reflete o pensamento de pessoas do seu vasto grupo social, e que é o que me choca na mesma proporção que os amorais que vemos nas ruas capixabas. Leia o que ele me disse: “Deda. Eu tenho saudades do AI-5. Se o povo não tem condições de viver na democracia e a confundem com anarquia então precisam de um regime austero, inclusive para imprensa, que fala muitos em direitos, democracia, mas adoram uma bagunça”. Dio mio….
Mas não param por ai as investidas dos sorocabanos. No próximo dia 19, às 15h, na praça do Campolim, um evento conclama a presença do sorocabano para revogar a Lei do Desarmamento.
O evento de Sorocaba é liderado por Davi Vieira, fã do deputado Jair Bolsonaro, e membro do chamado Movimento do Brasil Conservador. Estudante de Medicina aqui em Sorocaba, Davi Vieira reproduz o teórico dessa empreitada, Olavo de Carvalho, conhecido por suas manifestações na Internet e que se autointitula filósofo. Leia o que ele afirma: “Diante do que acontece no Espírito Santo, não é este um excelente momento para iniciar protestos de rua CONTRA O DESARMAMENTO CIVIL? Num momento em que o risco de vida é geral e iminente, que direito têm os filhos da puta de tirar do povo seus meios de defesa própria? O desarmamento civil é MIL VEZES MAIS CRIMINOSO DO QUE MENSALÕES E PETROLÕES. Por que protestar quando tomam o nosso dinheiro e abster-nos de fazê-lo quando nos entregam, inermes, nas mãos de assassinos? Se o cidadão não pode ter armas para se proteger mas, se tiver dinheiro, pode contratar seguranças armados para protegê-lo, a conseqüência mais óbvia e inevitável é que SÓ OS RICOS TÊM DIREITO À PROTEÇÃO ARMADA. Desarmamento civil é isso e nada mais.” (Olavo de Carvalho).
Eventos como do Campolim também já estão agendados para acontecer em São Paulo; Belo Horizonte – MG; Campo Grande – MS; e Brasília – DF.
Lições da História
Não existe salvador da pátria, não existe regime, não existe força capaz de resolver o que angustia uma sociedade a não ser ela própria. Não acredite que justiça pelas próprias mãos. Não acredite que há “iluminados” capaz de separar os bons dos maus. Qualquer regime de exceção pune mais os inocentes do que os criminosos. Não apoie nada fora do que está estabelecido no Estado de Direito. Não permita que uma greve de policiais militares seja usada como desculpa para o estabelecimento de um regime de exceção. Resistam às soluções fáceis. Elas não existem. Apenas a sociedade, em conversa e se organizando para punir os criminosos dentro da legislação, pode salvar ela própria.