A decisão do governo de Cuba em romper com o Brasil o Programa Mais Médicos – a parceria existe também com outras dezenas de países, alguns deles na Europa – devido as declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro vai provocar mudanças na estrutura de atendimento ao brasileiro que mais precisa de médicos em milhares de cidades, a maioria delas nos estados mais pobres do país. Porém, mesmo que em minoria, também provoca reflexos em locais ricos, como é o caso de Sorocaba.
Atualmente são 18 cubanos que trabalham em Sorocaba, que sairão do Programa por conta do rompimento do contrato pelo Ministério da Saúde de Cuba. No edital publicado do governo federal foram abertas 20 vagas para Sorocaba (tínhamos 2 vagas em aberto que o Ministério não havia reposto).
Os 18 médicos que saem de Sorocaba trabalhavam em 10 Unidades Básicas de Saúde (UBS), que tinham agendas de atendimento. Esses pacientes serão remarcados para outros médicos da UBS ou por médicos que entrarão pelo novo edital (previsão que seja entre 03 e 07/12).
Entre esses 18 profissionais está Ramón Burgos, um dos médicos cubanos que trabalham em Sorocaba. Ele se emociona ao lembrar de sua experiência trabalhando na Unidade Básica de Súde (UBS) do Ana Paula Eleutério (Habiteto), Zona Norte de Sorocaba: “Eu gosto muito de trabalhar aqui e toda a população do bairro me recebeu muito bem, foi muito difícil vermos pacientes chorando por nossa causa e se emocionando conosco”.
O Habiteto é uma das mais, senão a mais, região desassistida de Sorocaba. Moram lá pessoas em situação de grave vulnerabilidade social. São pessoas que não entendem, na maioria das vezes, a sua própria condição. No geral, historicamente, a prefeitura sempre teve dificuldade de encontrar médico brasileiro disposto a trabalhar no local. Os cubanos não só resolveram este problema, como passaram a ser admirados e queridos pela população local em razão da atenção que o médico dava a eles. É evidente que há uma compreensão do médico cubano em entender o seu paciente que mora ali e a população que consegue ser ouvida e respeitada.
Cubanos aprovados
A substituição definitiva dos médicos cubanos que deixarão Sorocaba se dará com os médicos do novo edital. Nessas 2 semanas até lá, estamos discutindo como será feito, para a população não ficar desassistida.
Perguntei ao médico Frederico Grizzi de Campos, gestor técnico de Atenção Básica da Prefeitura de Sorocaba, como ele entendeu a presença dos médicos cubanos em Sorocaba: “A avaliação minha é a mais positiva possível, os médicos cubanos criaram grande vínculo com as comunidades onde trabalhavam. A avaliação da população é muito positiva também, a grande maioria dos médicos cubanos é muito bem avaliada pela população”.
Volta para casa
A Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria da Saúde (SES), realizou nesta quarta-feira (21), no Salão de Vidro, localizado no andar térreo do Paço Municipal, uma reunião emergencial com os 18 médicos cubanos que atuam no município através do Programa Mais Médicos, para informar os próximos passos sobre a permanência ou não dos médicos na cidade.
O objetivo da reunião foi trazer tranquilidade aos médicos cubanos e demonstrar que o Governo Municipal de Sorocaba dará todo o auxílio necessário para a volta deles à ilha caribenha bem como a devida remuneração pelo trabalho cumprido. A decisão de sair da parceria com o Brasil, ocorreu no último dia 14 pelo governo federal de Cuba, rompendo cinco anos de atuação dos médicos no país.
“Eles estão preocupados com os pacientes com quem desenvolveram um vínculo importante; ainda tinham dúvidas quanto a remuneração nesse termino da missão e possibilidade de permanência no nosso município, já que muitos estruturam suas vidas aqui, com família, filhos etc. Nós precisávamos informá-los de que a Prefeitura irá ajudar no que precisarem, inclusive nos esclarecimentos e repasse de informações do ministério”, explicou Fernanda Coradini, chefe de divisão de Atenção a Saúde da Secretaria de Saúde (Ses).
Fernanda ainda contou que, de acordo com o contrato firmado entre a União e o governo cubano, os médicos não têm a obrigatoriedade de voltar para o país de origem, mas não terão mais o vínculo empregatício com o Programa.
Como medida emergencial para repor os médicos que estão deixando o país, o Ministério da Saúde abriu um edital para selecionar profissionais que queiram se vincular ao programa ‘Mais Médicos’. Estão sendo oferecidas 8.517 mil vagas, das quais 8.332 mil abertas devido à saída de médicos cubanos do programa.