“Sou incorruptível. Sou imbrochável…” Hummmm!

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A passagem do presidente Jair Bolsonaro por Sorocaba na manhã de hoje me fez lembrar de quando eu era criança, na Vila Santana, numa gincana da Festa Junina organizada num terreno que havia na esquina das ruas Moreira Cabral e João Nascimento. Quem contasse a maior mentira venceria. E depois de ouvir histórias engraçadas, fantasiosas, a vencedora foi uma mentira prosaica: Eu nunca falei mentira, disse um dos participantes. Confesso, foi decepcionante o resultado. Mas, verdadeiro. Em maior ou menor grau; com razão ou sem; com a melhor das boas intenções… o fato é que é natural no ser humano mentir.

Como a lembrança dessa história de minha infância se relaciona com a presença de Bolsonaro em Sorocaba?

Bem, respondendo aos jornalistas que esperavam por ele quando saia do Parque Tecnológico de Sorocaba, Bolsonaro falava sobre o assunto do momento (não, a falta de máscara, que ele insiste em não usar) a suspeita de que seu governo tenha comprado vacina da Índia por um valor 1000% superior ao de mercado e disse: Sou incorruptível. Sou imbrochável. Entre a pronúncia da primeira frase e da segunda, houve 2 ou 3 segundos de silêncio.

Bom. Digamos que seja possível mesmo ser incorruptível (incapaz de deixar-se corromper, seduzir, subornar; reto, honesto) o tempo todo. Não há nada (nem estudo, nem pesquisa, nem ciência…) que afirme que não seja possível isso. Ou seja, ao menos em tese um Homem pode ser honesto o tempo todo – há até um filme sobre isso: “O candidato honesto”, “O mentiroso”.

Mas os 2 segundos até a sua segunda frase, a negação de é brocha (a forma popular de nomear a impotência sexual), me fizeram ver que ele negava sua primeira frase. Ao usar uma segunda frase para explicar a sua primeira e sendo a segunda mentira, minha interpretação é de que ele não é seguramente esse exemplo de retidão.

Essas duas frases de Bolsonaro me levam a Sigmund Freud, o médico neurologista que criou o método “talking cure” (cura pela fala), ou seja, a psicanálise.

Freud disse: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”, ou seja, quando falamos do outro, existe algo de muito nosso naquilo; muito íntimo a falar de mim. Não há homem que nunca tenha brochado. Pois o que mantém a potência sexual masculina (seu órgão duro o suficiente para penetrar no órgão de alguém) é uma complexidade de fatores que se manifestam no momento do ato em si. É natural que um homem broche. Portanto, quando o presidente fala que é imbrochável, ele mente.

“Somos donos do que calamos e escravos do que falamos,” disse também Freud. É como naquele ditado popular, o peixe morre pela boca, ou seja, morre, não no sentido literal por ter mordido uma isca traidora, mas porque se entrega por inteiro no exato momento em que maldiz alguém. Ao dizer algo que é passível de ser desmentido, fica escancarado que Bolsonaro é o que pertence a ele próprio.

Tivesse se mantido apenas na primeira frase, Bolsonaro teria a chance de convencer de que fala a verdade, apenas. Mas o inconsciente falou mais alto. Com deley de 2 segundos. E deixou claro que ele é como um político qualquer.

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