Xepa, carro novo, pé de galinha

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Por um inusitado compromisso na manhã de ontem, fui fazer a prova do concurso de Oficial de Comunicação da Câmara Municipal de Sorocaba – aliás, onde tive um desempenho pífio – fui comer meu kibe, sagrado de domingo, na banca da Meire e seus sobrinhos um pouco depois das 11h. Ou seja, já na xepa. 

Há mesas para a freguesia, mas eu sempre prefero ficar junto da banca, no balcão da barraca. Sempre ficava em pé e ultimamente, pela intimidade que adquiri com todos, posso puxar um branquinho e me sentar. Ontem, no horário que cheguei, o kibe já havia acabado há um bom tempo. Mas como nunca falho, o sobrinho da Meire guardou o meu e só colocou pra fritar quando cheguei. Se o pastel leva 2 ou 3 minutos para ficar pronto depois de mergulhado em óleo quente, o kibe leva o dobro ou mais.

Foram nesses 6 minutos que esperei o kibe e nos outros 5 minutos que levei para comer meu kibe que notei, mas de modo disfarçado, confesso, a concorrência de pessoas revirando o lixo atrás de uma latinha vazia. E, pasmado, eu vi, gente também atrás de algum resto de pastel. Vi um senhor morder e comer o que achou. Não olhei diretamente pra ele para eu não me constranger.

A Meire vende centenas, talvez até mil pastéis e afins, nas manhãs de domingo ali na esquina da rua Visconde do Rio Branco na Vila Jardini.  E a vejo ela dando muitos, inclusive para as mesmas pessoas que todos os domingos vão lá, como uma vendedora de paçoca com algum retardo mental. 

Não consigo dizer que vivemos numa calamidade econômica generalizada pois é nítido como estão se dando bem não apenas a Meire do pastel, mas também o seo Carlos que planta e vende todas suas verduras, a moça da banca do ovo que acabou de comprar 0km sua SD10 Chevrolet, o Tuco e suas frutas… Mas é explícito o abismo que derrubou dentro dele quem estava mais próximo de sua borda.  Certamente Paulo Guedes, e o presidente, não estão fazendo a feira. Muito menos na hora da xepa, pois ele disse, em Davos na semana passada, que arrumou a economia com medidas estruturantes e não importa quem seja eleito, a economia está em ordem. Não entendi nada do que ele disse. Mas sei o que vi na feira ontem. Sei que vi uma senhora, com moedinhas contadas, no açougue do supermercado da rede Bom Lugar, no Jardim Tropical, comprando 250 gramas de pé de frango.

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