Câmara esnucou o prefeito ou secretário falou demais?

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O site da Câmara de Vereadores de Sorocaba, no começo da tarde de hoje, estampou em sua página principal a seguinte notícia: “Prefeitura anuncia criação da Secretaria de Dependência Química durante audiência pública”.

Até essa informação, sei que se arrasta há meses um embate entre o prefeito Crespo e os vereadores Manga (DEM) e Martinez (PSDB). Os três concordam num ponto: é preciso que o poder público dedique-se a uma política pública de combate às drogas, de amparo aos familiares dos dependentes e de parceria com as forças de polícia para combater o tráfico. Mas divergiam em outro: para o prefeito, bastava a criação de uma Coordenadoria de Drogas; enquanto para os vereadores era preciso a criação de uma secretaria para o tema. A diferença é custo e gente. A coordenadoria fica pendente numa secretaria já existente enquanto a secretaria tem toda uma estrutura própria.

Assim, a notícia da Câmara, baseada na fala do chefe de gabinete, Alexandre Robin, que estava no evento na Câmara de Vereadores representando o prefeito, que confirmou a criação da secretaria de políticas públicas de combate e prevenção às drogas, esnucou (silogismo do jogo de Sinuca, quando um jogador fica sem bola para atacar) o prefeito que se verá obrigado a criar a secretaria honrando a fala do seu secretário ou seu secretário falou demais e arcará com as consequências da confusão política que ela ira causar.

Resta aguardar.

O que aconteceu hoje

Sob o comando do presidente Rodrigo Manga (DEM), a Câmara Municipal de Sorocaba realizou na manhã desta sexta-feira, 29 de junho, uma audiência pública sobre o Dia Internacional de Combate às Drogas, celebrado em 26 de junho. Durante o evento, que reuniu representantes do poder público, instituições, centros terapêuticos, clínicas de recuperação, familiares de pacientes, além da participação do ex-integrante do grupo musical Polegar, Rafael Ilha, a Prefeitura anunciou a criação da Secretaria de Dependência Química, uma antiga luta do presidente Manga.

“A ideia é discutir ações de melhoria para um mal que tem assolado não só o nosso Município, mas o mundo todo”, iniciou Manga, antes da veiculação de uma reportagem produzida pela TV Câmara para a audiência. Segundo os dados apresentados, o número de mortes relacionados ao consumo de álcool no país subiu 58% nos últimos 14 anos, superando o crescimento de mortes no trânsito que cresceu 17% no período. Em Sorocaba, levantamento da Comissão de Dependência Química do Legislativo contabilizou 51 minicracolândias no início deste ano, sendo que em 2013 eram 10 pontos de consumo.

Além de Manga e Rafael Ilha, a mesa de honra foi composta pelas seguintes autoridades: chefe de Gabinete do Executivo, Alexandro Robin, que esteve representando o prefeito José Crespo; delegada Daniela Cavaleira Lara de Góes; delegado Elton Padilha; secretária de Saúde Marina Elaine Pereira; comandante da GCM, Marcos Mariano, o gestor hospitalar, João Alberto Maia, e o promotor de justiça Antônio Domingues Farto Neto.

Também participaram da audiência os vereadores, Engenheiro Martinez (PSDB), que é autor da Lei nº 11.538/2017, que instituiu a Semana Municipal de Combate às Drogas, e Luis Santos (Pros), além dos secretários municipais de Igualdade e Assistência Social, Cintia de Almeida; Conservação, Serviços Públicos e Obras, Fábio Pilão; Assuntos Jurídicos e Patrimoniais, Gustavo Barata; da Fazenda, Marcelo Regalado; de Mobilidade e Acessibilidade, Luis Carlos Siqueira Franchin.

30 mil usuários

Em sua manifestação, o presidente Rodrigo Manga reforçou que o Brasil é o primeiro consumidor mundial de crack e cachaça e que são mais de 30 mil usuários de drogas em Sorocaba. Explanou ainda sobre as falhas no atendimento no Município que sofre com a falta de vagas para internação e tratamento e a falta de uma rede fortalecida, ressaltando o aumento de moradores em situações de rua, inclusive após o fechamento dos hospitais psiquiátricos. “Igrejas e entidades têm um papel fundamental, principalmente na área de alimentação, assim como o Centro POP, mas não trata. Para onde vão essas pessoas depois?”, questionou, reforçando a importância de criação de uma secretaria municipal de políticas sobre drogas para centralizar o trabalho de prevenção, acolhimento e tratamento de usuários e seus familiares.

Fala do secretário

O chefe de gabinete, Alexandre Robin, em nome do prefeito, confirmou a criação da secretaria de políticas públicas de combate e prevenção às drogas que, segundo Robin, está em fase de estudos. O chefe de gabinete também falou sobre as ações de combate e prevenção às drogas desenvolvidas pelas secretarias de Saúde e Igualdade e Assistência Social, mas admitiu que ainda é pouco.

Vereadores comemoram

“Hoje Sorocaba entra para a história com o anúncio da secretaria sobre drogas”, afirmou Manga. Também comemorando o anúncio, o Engenheiro Martinez reforçou que com estrutura e orçamento próprios, a nova secretaria terá condições para minimizar o problema. Luis Santos também parabenizou a iniciativa e criticou a implantação de políticas que classificou como errôneas, como o programa de redução de danos, assim como o Marco Regulatório que trouxe burocracia para as entidades sociais. Os vereadores lamentaram a falta de um hospital especializado no atendimento e internação de usuários de drogas a exemplo do município de Botucatu.

Depoimento de Ex-Polegar

Rafael Ilha, ex-integrante do grupo musical Polegar, constituído de adolescentes, que fez sucesso no final dos anos 80 e início dos anos 90, falou sobre o que classificou como “problema gigantesco e alarmante” que é o consumo de drogas e álcool no país. Ilha ressaltou a falta de tratamento especializado ante o número crescente de usuários e a dificuldade das entidades que querem ajudar, mas esbarram na falta de recursos, burocracia e exigências legais.

Secretária da Saúde

Sobre a questão, a secretária de Saúde reforçou que se trata de um “mal social” que não é exclusivo do Município de Sorocaba, destacando a importância de um trabalho conjunto e manifestando ser favorável a concentração das ações em uma nova secretaria. Marina lembrou que o álcool, sendo uma droga legalizada, acaba sendo a porta de entrada para as drogas e um problema sério para as famílias. Já o delegado Elton Padilha falou sobre o combate ao tráfico pela Polícia Militar e a importância de “fechar a torneira”, destacando o crescente consumo de drogas.

Secretária de Igualdade

E a secretária Cintia de Almeida lembrou a implantação da coordenadoria especifica sobre drogas, uma iniciativa inédita no Município, conforme afirmou, e que deixou de funcionar no ano passado. Disse ainda que o Município foi contemplado com uma capacitação internacional chamada “Programa Coalizão Comunitária do Uso de Drogas”. A secretária afirmou ainda que no início do atual governo eram 1270 pessoas em situação de rua na cidade e hoje são 659, grande parte vinda de outros municípios e até mesmo países da América Latina, graças aos esforços da “Operação Dignidade”. Disse ainda que a população pode entrar em contato com as equipes de buscativa enviando fotos e informações de moradores em situação de rua através do WhatsApp da Casa Azul – 998416245 ou 996141954. Representantes de entidades, familiares e ex-usuários também se manifestaram e deram seus depoimentos.

Homenagens

No início da audiência formam homenageados com votos de congratulações os policiais militares cabo Maria Madalena Martins, cabo Marcos Eduardo Diniz e capitão Alexandre Augusto de Oliveira, além de Alessandro Campanini, pelo ato de bravura ao ajudar no resgate de Anderson de Souza Matos, da tentativa de suicídio há cerca de um mês.  Usuário de drogas há 14 anos e pai de três filhos, Matos tentava se jogar de um viaduto na Rodovia Castelinho. Emocionados, os envolvidos relataram o episódio. “Dê uma chance para sua vida, não se entregue as drogas”, afirmou Diniz. Anderson Matos afirmou que após usar drogas durante a noite, caminhou de Salto até o viaduto decidido a tirar sua vida. “Obrigado Deus por me dar outra chance. Hoje quero ajudar outras pessoas”, disse, reforçando que não usou mais drogas após o episódio.

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