E o Brasil tem o humorista “Cabo Daciolo” concorrendo a presidente

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Na noite de quinta-feira da semana passada, no WhatsApp, minha filha caçula afirmou “…esse cabo Daciolo não existe…” e minha mulher ao meu lado perguntou quem era. Eu disse que não fazia a menor idéia. Estávamos longe da TV e, portanto, do primeiro debate da Rede Band que tradicionalmente abre a quase infinita série que se desenrolará até o último, também tradicional, na TV Globo.

Minutos depois do início do debate, bombando nas redes sociais (os comentários de e sobre Daciolo chegaram a estar nos mais acessados no mundo), já sabia quem era o tal.

O Artigo 46 da Lei Eleitoral, que rege o pleito hora em curso, determina: “Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais (…)”. O cabo Daciolo, do Patriotas, se enquadra nas regras, por isso estava lá. João Amoêdo, do Novo, não se enquadra e por isso não estava. Lula, podia estar o debate pela Lei Eleitoral, mas não pela Lei Penal que não permite que ele saia da cadeia.

Todos trataram Daciolo com o desprezo que a graça que seu comportamento proporciona “para honra e glória do Senhor Jesus”. Sim, a cada bobagem que dizia, o tal cabo da Polícia Militar (ex-membro dos Bombeiros), que é deputado federal no momento, assim terminava sua “argumentação”.

Entre os vários, o momento mais engraçado da noite – segundo os compartilhamentos das redes sociais indicaram – foi quando Daciolo acusou Ciro Gomes de ser fundador do “Foro de São Paulo” (o que é mentira) e pediu que o pedetista explicasse o que é “Ursal”… E Ciro, mal contendo o riso: “O que é o quê? O que é isso?” E Daciolo explicou: “União das Repúblicas Socialistas da América Latina”. Ciro, então, afirmou: “A democracia é maravilhosa, mas tem seu preço”.

Daciolo, apresentado a mim (e creio que a milhões de brasileiros também) na noite de quinta-feira, conseguiu ser mais infame do que Jair Bolsonaro vinha sendo até tomar um “banho de loja” do seu marqueteiro e assumir a aparência de um homem público equilibrado, que demonstra saber se conter – aliás, algo que seu filho externou não gostar de estar vendo no pai.

Triste que na reta final de um processo do qual o Brasil anseia, pois deposita no próximo presidente a esperança de que ele venha a ser um articulador capaz de tirar a economia desse buraco em que estamos, a “novidade” seja esse cabo Daciolo que se apresentou no debate da Band.

Quando da entrevista para os jornalistas da GloboNews, Bolsonaro já havia me tirado gargalhadas por seu comportamento de zombar dos entrevistadores e, especialmente, por não demonstrar a mínima idéia sobre a problemática a ele apresentada. O grande exemplo foi quando ele disse que a mortalidade infantil no Brasil se explicava “por problemas que as mulheres têm lá embaixo” (sic). Mas Daciolo se supera (o debate está acessível no YouTube) quando ao responder sobre juros, disse que as urnas eletrônicas não são confiáveis e a eleição deveria ser com voto de papel.

“Para honra e glória do Senhor Jesus”, que o Patriotas não eleja 5 parlamentares em outubro, senão em 2022 teremos que continuar aguentando momentos de palhaçada (por serem afirmações sérias) quando o que mais precisamos é de gente capacitada e comprometida no comando.

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