Os fins não justificam os meios. Democracia corre o risco e mídia bota lenha na fogueira

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Um grupo de cerca de 50 pessoas protestou, na noite de quarta-feira (16/03), em Sorocaba, contra a decisão da presidente Dilma de fazer o ex-presidente Lula seu ministro da Casa Civil (fato consumado e depois barrado pela justiça na manhã de hoje). Em diversas cidades do Brasil aconteceu o mesmo.

Ainda bem que isso é possível: protestar.

Mas é preciso respeito às regras.

Que Dilma sofra o processo de impeachment, e que lute para não sofrer. Que o brasileiro vá às ruas e xingue e peça sua saída e prisão do Lula. É da democracia.

Que a imprensa fale de tudo isso, mas que tenha respeito às diferenças. É incompreensível do ponto de vista da responsabilidade social que a rádio Jovem Pan, revista Veja e TV Globo, essas emissoras em particular, incitem seu público a favor de uma tese que traçaram. Mas é compreensível que essas emissoras assim ajam do ponto ideológico e mercadológico embora, claramente, o feitiço possa virar contra o feiticeiro.

Sem equilíbrio em seus noticiários, e com emissoras menores cedendo à aparente tentação que esses veículos estão obtendo, e engrossando a linha editorial deles, o que se vê (e a passeata e domingo na avenida Paulista mostrou isso) é um descrédito cada vez maior em relação aos políticos. Isso abre, escancara, um caminho para o autoritarismo no Brasil. A história, e ai não apenas a do Brasil, mostra que apenas os amigos dos ditadores se dão bem e que a sociedade em geral apenas perde.

Esse comportamento apenas estimula imbecis, como o vereador Crespo, da Câmara de Sorocaba, a usar sua rede social para insultar a presidente. Ele ganha pontinhos com aqueles que são contra o governo e já gostam dele. Mas perde com as pessoas de bom senso e que respeitam as instituições.

Há uma pressa para que este péssimo governo (e péssimo do ponto de vista econômico, político, social, moral, ético…) se resolva. Mas nenhuma pressa pode colocar em risco a soberania das conquistas de liberdade de ação e expressão e condução das individualidades. Me assusta sinais evidentes de que há uma tentação pela volta do regime autoritário: descrédito em quase todos os políticos (e nisso o falso moralismo de Aécio apenas contribui para este sentimento). E digo quase porque ganha espaço na sociedade o sentimento de que o extremista deputado federal Jair Bolsonaro (que defende e prega uma série de barbaridades, entre elas a pena de morte) é uma opção. Não é.

Por fim, minha preocupação com o juiz Sérgio Moro, o herói de quem foi à avenida Paulista domingo passado. Em nome da vaidade e do sucesso da sua Operação Lava-Jato ele agiu de maneira controversa quando conduziu Lula coercitivamente para depor (quis sim espetáculo) e deu uma desculpa esfarrapada para autorizar a divulgação do grampo na presidente da república quando decidiu fazer de Lula ministro. Obviamente, os fins não justificam os meios. Se há uma lei, que ele a siga e mostre sua competência dentro das regras do jogo. Moro sabe que a mídia (em especial as três que citei acima) precisa de uma personagem para que haja a narrativa própria desses meios e está gostando desse papel. Que se mantenha nos limites e não seja instrumento para a volta do autoritarismo. Afinal, é impensável um Moro ou uma Lava-Jato num regime de exceção.

Ah, aos bobos que entenderam este texto como uma defesa do petismo, meus pêsames. Afinal vocês são bobos mesmo.

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