O prefeito eleito de Sorocaba, José Crespo (DEM), concedeu entrevista na manhã de hoje na coluna O Deda Questão, no Jornal da Ipanema (FM 91,1Mhz), das 7h10 às 8h35, antecipando em uma hora e meia o horário habitual da coluna. O fato pegou muitos ouvintes de surpresa. Eles estranharam a coluna ter sido veiculada mais cedo e se manifestaram no portal da voz da emissora. A explicação para a mudança do horário da coluna foi o fato de apenas neste horário o prefeito eleito estar disponível para comparecer à rádio porque às 9h ele teria, como acabou tendo, uma reunião com sua equipe de transição.
Coordenada pelo braço direito de Crespo, o advogado Hudson Zuliani, que será o secretário do Gabinete Central; pelo futuro Controlador do Município, Mário Mortara; e pelo futuro Corregedor Geral da Prefeitura, Gustavo Barata, classificado por Crespo de “seu Pit-Bull”, numa referência à personalidade dos cachorros dessa raça, o teor da reunião havia deixado o prefeito eleito ansioso desde ontem.
No ar, mas especialmente nas conversas fora do microfone, o prefeito eleito demonstrou que vivia um dilema pessoal em relação ao resultado da reunião. Conversas preliminares com Zuliani e Barata deixaram Crespo preocupado com o que ele vai encontrar quando assumir a cadeira de prefeito: “Não vou assumir bomba camuflada no final do governo Pannunzio, mas o que faço, fico quieto como o próprio Pannunzio ficou quando recebeu o governo do Lippi, que é do seu partido, e agora no final, quando a situação ficou complicado, ele começou a abrir e falar mais abertamente dos problemas que recebeu de Lippi? Não posso, a hora de falar é agora, na transição”.
O que tecnicamente seria algo simples, falar e contar o que encontrou, estava deixando hoje pela manhã Crespo num dilema pessoal: “Mas como faço isso? Como falo que estou recebendo uma herança? Fabricaram um relatório para o Pannunzio do governo dele muito difícil de ser entendido. Eu tive muita dificuldade para entender e o Zuliani e sua equipe (Mortara e Barata) estão estudando isso há dias e vão me apresentar hoje um Relatório do Relatório, ou seja, a tradução para ser entendida do relatório que o Pannunzio me entregou, mas foi feito por sua equipe para que ele próprio, Pannunzio, não tivesse noção do que ele está deixando”.
E tornar público ou não o Relatório do Relatório se tornou um dilema pessoal para Crespo em razão da amizade que ele e Pannunzio e a família de ambos mantêm há décadas. “Até hoje nossa amizade esteve acima de qualquer divergência ideológica ou partidária, mas dessa vez tenho medo de que o Pannunzio fique realmente bravoo e isso possa abalar a nossa amizade, mas não posso assumir a bomba camuflada e não falar o que estou recebendo”.
Decisão ficou para terça-feira
Conversei com assessoria do prefeito eleito há instantes e fui informado de que Crespo pediu ao secretário Zuliani que “aprofunde mais o Relatório do Relatório com dados mais consistentes sobre a real situação que ele está recebendo a prefeitura e isto ficou para terça-feira que vem. Mas a situação é grave como ele disse hoje cedo na rádio Ipanema”.
Pedi ao assessor do prefeito que fosse mais preciso em relação ao termo grave e sugeri se esse adjetivo no contexto da transição quer dizer que são contas que ficarão para o novo governo pagar; se se trata de algum TAC (termo de Ajusta de Conduta) que vai consumir dinheiro de investimentos; se refere-se a dinheiro de investimento que está sendo devolvido para a Funserv (Fundação de Seguridade dos Servidores Públicos Municipais) cujo déficit se acumulou desde Paulo Mendes e Renato Amary como Pannunzio tem dito ultimamente… Mas a resposta foi que “ainda não existe este retorno e que apenas na terça-feira Crespo vai se pronunciar sobre o assunto”.
Aparentemente, o dilema de falar sobre o assunto está diremido. Mas apenas na terça-feira, quando ocorrer o pronunciamento, será possível saber o peso do que Crespo vai revelar.