Usei de um neologismo (criação de uma palavra) na coluna O Deda Questão na coluna de hoje do Jornal da Ipanema (FM 91,1Mhz) para expressar o momento de tensão vivido pelos candidatos a prefeito de Sorocaba: pesquisite. Essa é a junção da palavra pesquisa + o sufixo Ite (usado na formação de substantivos com o significado de inflamação de algum órgão). Diferentes assessores dos candidatos me perguntam o que acho ou se sei alguma coisa sobre o resultado da pesquisa Ipeso, encomendada pelo diretório municipal do PSOL, com previsão de ser divulgada na próxima sexta-feira, dia 9. Mais do que saber o resultado, sinto que o clima dentro das campanhas de todos os candidatos (afinal converso ao menos uma vez por semana com alguém de confiança ligado diretamente aos candidatos) é de dúvida. O resultado é confiável sendo a pesquisa encomendada por um partido político? Esta é a dúvida que ronda todos que estão envolvidos na campanha dos cinco candidatos a prefeito de Sorocaba.
Todos os candidatos, se não fazem ao menos deveriam fazer, sondagens e pesquisa para o uso interno da campanha. Pesquisa profissional (com todas as divisões de renda, escolaridade, crença, região onde mora, sexo, idade….) custa muito caro. Para se ter uma ideia o Ibope cobrou R$ 45 mil, declarados, da TV TEM na única pesquisa de intenção de voto que fizeram para Sorocaba até o momento.
Mas a Legislação Eleitoral, para garantir que a pesquisa seja o retrato do momento em que ela foi feita, exige que para ser divulgada ela precisa ser registrada com 5 dias de antecedência da data de publicação. Para dar autenticidade, uma pesquisa deve ser publicada imediatamente após a sua conclusão. A pesquisa Ibope/TV TEM foi publicada na noite do dia em que dados ainda foram colhidos, ou seja, absolutamente em cima do momento.
Faltando 26 dias para o dia da eleição municipal, quem encomendou pesquisa até agora foi a TV TEM que historicamente contrata o Ibope nas eleições. E quem também encomendou foi o diretório municipal do PSOL, partido do candidato a prefeito Raul Marcelo. O fato da TV TEM encomendar uma pesquisa é visto com naturalidade, afinal o papel de um veículo de comunicação é informar o seu público sobre aquilo que é do seu interesse. Faz parte da natureza de um veículo de comunicação investir naquilo que atende ao interesse do seu público e da história do próprio veículo.
Mas e um partido político? Qual o interesse em fazer a pesquisa? A resposta é simples: numa corrida eleitoral o candidato que está na frente tem o interesse de divulgar pesquisas e, na mesma proporção, quem está atrás deseja que nenhuma delas seja divulgada. Dai a lógica do PSOL sorocabano estar gastando em sua segunda pesquisa, a primeira depois do início do horário eleitoral gratuito de Rádio e TV.
Credibilidade e história do Ipeso
Conversei sobre este tema com Victor Trujillo, sorocabano, professor de pesquisa e fundador do Ipeso. Fiz uma pergunta para ele: “Muita gente desconfia que o fato do PSOL pagar ao Instituto Ipeso por uma pesquisa eleitoral isso significa que o resultado é manipulado a favor do candidato. Isso é verdade? O que você responde a quem expressa desconfiança?”
A resposta de Victor Trujillo: “Muito oportuno o questionamento e o esclarecimento é de interesse geral. O Ipeso é uma empresa de pesquisa que atende a todos os partidos, candidatos e agências. Não têm preferência partidária e não trabalha apenas com pesquisas eleitorais. Todos os partidos fazem suas pesquisas internas, sondagens feitas por correligionários: algumas mais estruturadas outras menos, mas todos os partidos têm a temperatura da opinião pública e sentem o apoio do eleitorado nas ruas. Quando sentem que estão com força, tratam de contratar uma empresa idônea para medir a opinião dos eleitores (justamente porque acreditam que estão bem) e querem registrar e divulgar os resultados. O Ipeso sempre esteve (e está) à disposição de todos os partidos e coligações. Certamente se fosse outro partido ou coligação que estivesse vendo sua candidatura forte nas ruas, o outro partido iria tratar de contratar a pesquisa para medir e também iria registrar a pesquisa para divulgação. É óbvio e todo mundo sabe – mas nunca é demais repetir – que o Ipeso (e toda e qualquer empresa de pesquisa idônea) pauta seus trabalhos na ética e jamais abrirá mão da completa imparcialidade. Seja quem for o contratante, os resultados serão sempre fidedignos à realidade. A eleição passa rápido, a credibilidade da empresa de pesquisa permanece”.
Na foto, Victor Trujillo em 2014 quando concedeu entrevista ao programa Vida Pública da TV Cruzeiro do Sul.