Sorvete na caneca

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Aos domingos, de muito calor, minha mãe me mandava na sorveteira que havia na esquina das ruas João Nascimento e Olavo Bilac com uma caneca de alumínio. Era na caneca que a atendente colocava o sorvete de massa de creme. Não havia, como atualmente, embalagens de isopor para levar o sorvete para casa.

Eu devia ter 7 ou 8 anos, era o ano de 1974, 75, e todos os cinco filhos dos meus pais ainda moravam com eles. Ninguém estava casado.

Me lembro que era muito calor!

Alguns anos depois, aos domingos, a turma da Vila Santana não ia mais no Estrada. Acordava bem cedo, ia a pé até a rua Álvaro Soares, no centro, uma bela distância, acho que pelo menos uns 3 quilômetros, para pegar o ônibus da Vima com destino ao Jardim Guadalajara. Lá ficavam as piscinas do Clube União Recreativo. Era uma viagem. Chegava-se lá 9h, 10h e voltava no final da tarde.

Me lembro de ter feito esse “passeio” apenas uma vez. Eu preferia a piscina do Estrada, que ficava a três quarteirões de casa. Afinal, eu era um menino de 11, 12 anos que queria nadar. A turma de 14, 15 anos queria namorar.

Me lembro que eram domingos quentes. Muito quentes. Calorão!

Mas não me lembro de ninguém falar sobre estar quente como se fala hoje em dia. O calor não era assunto. Hoje é. 

Parei na sorveteria ontem. Aliás, sorveteria era o que havia na minha infância, era uma fábrica de sorvete que vendia o que produzia. Hoje em dia, salvo exceções, são lojas que vendem o sorvete feito por alguma fábrica. Parei numa dessas. Dezenas de geladeiras apenas com caixas de papelão vazias. Haviam levado praticamente tudo. Mas não tudo completamente. 

Na fila do caixa para pagar, um jovem puxou papo. E o assunto foi o calor. Ele me disse que é o fim do mundo. 

Não se tratava de profecia. Acabaram com o Planeta, ele me disse. E ainda estão acabando, penso eu.

Dois fatos, portanto algo real,. O primeiro é que em 1975 e 1981, anos em que fui comprar sorvete de caneca ou fui na piscina do Recreativo, não havia sido desmatada a cidade como foi e está atualmente. A vegetação era vasta. Eram muitas árvores. Não havia 200 mil pessoas morando em Sorocaba e hoje se está bem próximo de uma população de 1 milhão de habitantes. O segundo fato, as embalagens. Em 1975 cada freguês levava sua vasilha para levar o que queria pra casa, hoje tudo está em caixa, isopor, plástico e seus derivados. É muito lixo!

Sem árvores, com a impermeabilização crescente do solo, o calor só aumenta. E ontem fez calor! Exagerado. Infernal. E sem vento. Nem brisa. Um ar parado.

Só não acho que seja o do fim do mundo. Mas entre eu achar e os fatos há uma enorme diferença e distância. Acho, sim, que é o começo do fim.

Não sou negacionista. Reconheço o aquecimento global. Vejo que líderes mundiais desprezam a importância desse tema e que a população não define seu voto por ele. Nem aqui, nem São Paulo… nem nos Estados Unidos… nem na Ásia… Talvez na Noruega, Dinamarca, Holanda.

Talvez quando o começo do fim do mundo estiver mais para o fim do fim do mundo. Talvez!

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