Sou daquelas pessoas que levam a sério a primeira impressão. Acredito que elas dizem muito. E gostei da coerência do prefeito eleito com seu padrinho e me assustei ao ver que o combate ao seu adversário não se restringe à campanha eleitoral

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crespoeleitoOscar Wilde (um dos escritores mais importantes do século 19) é autor de algumas centenas de célebres frases que resumem um universo em poucas palavras. É dele a expressão “só um tolo não se deixa levar pela primeira impressão”. E acredito muito nisso. A primeira imagem, o primeiro discurso, a primeira entrevista… revelam o universo complexo que é um ser. Por isso, estive muito atento aos primeiros movimentos, pronunciamentos, gestos e atitudes de José Crespo, prefeito eleito de Sorocaba em 2º turno no domingo passado.

Gostei de ver Crespo, no primeiro instante da vitória, reconhecendo a importância de Renato Amary para a sua eleição. Renato Amary já estava para a história de Sorocaba como o prefeito que levou Sorocaba a um salto em sua qualidade de vida extraordinário na passagem do século 20 para o século 21. Ele assumiu o comando da Prefeitura de Sorocaba na eleição de 1996, foi reeleito em 2000 e deixou uma marca ao abrir vias, despoluir o rio, construir mais de 30 escolas, enfim, ao fazer mais de duas mil obras. Até o mais ferrenhos de seus adversários reconhecem a sua competência como prefeito. Para fazer o que fez agiu como um empresário, mas a lógica do mundo corporativo não é a mesma na administração pública e ele responde a dezenas de processos que o levaram a evitar uma batalha jurídica para obter o registro de sua candidatura. Ao abrir mão de concorrer no último instante, ele embaralhou as coligações de outros partidos e reuniu um time com 13 partidos e passou a Crespo o direito de concorrer. O favoritismo de Renato se não em sua totalidade ao menos estimo que em 60% se transferiu para Crespo e ele, que já havia concorrido e perdido 4 eleições para prefeito, alcança o sonho de comandar a Prefeitura de Sorocaba a partir de 1º de janeiro de 2017. Sua obsessão de ser prefeito não o cegou e, na festa da vitória ainda no comitê de campanha, cercado por militantes e simpatizantes por todo lado Crespo teve a honradez de dedicar a sua vitória a Renato Amary. A eleição de Crespo só foi possível graças a Renato Amary que cedeu a vez e se empenhou a transferir todos os seus votos a Crespo.

Não podia ter uma melhor primeira impressão do prefeito eleito do que essa. Senti ali a coerência que tanto se busca nos homens públicos.

 

Agora o susto

 

Passadas 14 horas do instante em que as urnas fizeram de Crespo o prefeito eleito de Sorocaba, ele sentou-se nos estúdios da rádio Ipanema, depois de ter passado pelos microfones das rádios Cacique e Cruzeiro e pelas TV Tem e Record, e participou das 9h20 às 10h10 da coluna O Deda Questão.

E me assustei com a primeira entrevista do prefeito eleito. Não pela sinceridade e transparência das suas palavras, o que considero absolutamente louvável e esperançoso de que assim será ao longo do seu mandato. Mas em ver Crespo sinalizando que o combate a Raul Marcelo e ao PSOL não foi algo restrito ao calor da campanha eleitoral. Perguntei por que tanto medo de Raul Marcelo e ele disse que o problema não é Raul Marcelo, que ele considera um bom menino (palavras exatas dele), mas o PSOL que é formado pela junção das piores forças políticas do Planeta Terra (palavras exatas dele), formado pelo que há de pior na política nacional (palavras exatas dele). O PSOL é formado por pessoas estatizantes e reúne o que há de pior e de ódio no coração, gente ruim (palavras exatas deles).

A entrevista seguiu e subiu o tom quando disse que Crespo estava sendo pejorativo ao chamar Raul Marcelo de menino, desqualificando um adversário que levou o voto de mais de 129 mil sorocabanos. Orientado pelo assessor, ele baixou o tom, fez discurso conciliatório e disse que estava caindo na minha provocação. Mas já era tarde. Sua primeira entrevista estava dada e “só um tolo não se deixa levar pela primeira impressão”. Sinceramente, não é o meu caso.

Antes de Crespo entrar no estúdio afirmei que minha impressão é a de que as igrejas evangélicas e as lojas maçônicas de Sorocaba foram as responsáveis pela vitória de Crespo de 59% a 41%. Nos estúdios, ele não apenas concordou como disse que o movimento desses grupos e de empresários foi espontâneo em torno de sua vitória e não por causa do seu plano de governo, mas para derrotar o que representaria para Sorocaba ter Raul Marcelo e o PSOL na prefeitura.

Minha percepção é a de que o ostensivo combate a Raul Marcelo nas redes sociais ao longo do 2º turno – especialmente a partir da pesquisa Ibope/TV Tem que indicou empate técnico entre os dois no dia 17 de outubro – atribuindo a ele (caso fosse eleito) um governo que abriria a rede pública de saúde para o aborto e faria da Guarda Civil Municipal uma parceira das drogas, não se restringiu à campanha eleitoral. Assim como Renato Amary já era candidato a prefeito de Sorocaba em novembro de 2012, um dia após a eleição em que ele perdeu para Pannunzio,

Raul Marcelo e o PSOL serão combatidos desde este 1º de novembro de 2016 para que não represente, como representou, o risco de ser escolhido prefeito de Sorocaba. A entrevista de Crespo e Jaqueline Coutinho (sua vice) na coluna O Deda Questão no Jornal da Ipanema (FM 91,1Mhz) dá este indicativo.

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